Esta Argentina é a maior incógnita desde 1994
Tales Torraga
E finalmente chegou o dia. Mais do que estrear na Copa do Mundo, a Argentina de Jorge Sampaoli vai enfim mostrar a sua cara. A extensa pesquisa que fizemos para o livro ''Copa Loca'' nos permite afirmar sem sustos: desde os EUA-1994, quando Maradona, Caniggia e Batistuta ainda jogavam, que a Argentina não debutava em um Mundial mergulhada em tantos mistérios e sendo uma incógnita tão gigante.
Ali, a grande questão era o retorno de Maradona. Depois, em todas as Copas, para o bem ou para o mal, a Argentina que se apresentou já era a esperada pelo público e pelos comentaristas – em que pese surpresas negativas como a de 2002, quando foi injustamente eliminada ainda na primeira fase, somando quatro pontos e só levando dois gols (um de falta e outro de pênalti). Terrible, pero ya tá.
Voltando ao presente, precisamos ser sinceros: antecipar qualquer coisa a respeito do funcionamento da equipe diante da Islândia vai ser chute. A partida deste sábado em Moscou vai ser a 12ª de Sampaoli no comando da Argentina, e a sua 12ª formação diferente. Há improviso e há desentrosamento. Só mesmo a argentineada típica pode encobrir esta séria limitação achando que a primeira fase vai servir para ajustar a equipe e os mata-matas vão servir para ratificar o favoritismo azul e branco. Copas do Mundo não toleram mania de grandeza. O grupo da Argentina é difícil e qualquer deslize pode representar um adeus precoce.
O próprio período de trabalho de Sampaoli à frente da Argentina é curto demais – este seu mísero ano de trabalho faz com que ele arranque a Copa com a menor rodagem de um técnico argentino desde o Mundial da Inglaterra, em 1966.
Além deste desentrosamento já citado, o elétrico treinador encara também outro problema derivado: a falta de ritmo – esta Argentina não enfrenta um rival sério desde a surra de Madri e os 6×1 engolidos frente a Espanha em 27 de março. São dois meses e meio sem futebol de verdade. Houve um amistoso de mentirinha no meio contra o Haiti, mas não há o que considerar. Mesmo a presença de Messi precisa ser colocada em suspense – a sua última vez vestindo azul e branco em um jogo digno de nota foi ainda em novembro, contra a Rússia.
Grande exemplo da incógnita que vai ser esta Argentina, o goleiro Caballero estreia nesta Copa com apenas duas partidas defendendo a seleção. Tagliafico, o lateral-esquerdo, tem só três partidas; Salvio, atacante pela direita que vai ser improvisado na lateral, atuou apenas em oito; Otamendi (53) e Rojo (55 jogos) são mais experientes. Otamendi é um líderes em campo, já Rojo, escalado como zagueiro, também precisa atuar no improviso, ala pela esquerda que é. Seu físico gera dúvida. Ficou parado por sete meses depois de uma grave lesão no joelho.
A defesa vai precisar tomar cuidado com o jogo aéreo da Islândia. Os europeus têm média de altura de 1,86 metro, exatos dez centímetros a mais que os argentinos.
O meio-campo será reforçado. Sampaoli nas entrevistas deixou claro que o seu 4-2-3-1 será substituído pelo 4-4-2. Três jogadores vão atuar como volantes: o questionado Mascherano, o também avariado fisicamente Biglia e Meza, do Independiente, que vai atuar um pouco mais recuado, deixando que Salvio avance pela direita. Di María, pela esquerda, vai ajudar a servir Messi e Agüero no ataque.
O poder de contenção é um grande dilema. Se a Argentina tentar sufocar a Islândia, os contra-ataques especialmente pelo alto podem pegar a defesa mal postada. O papel que a Islândia vai assumir para si vai ser essencial. Se ela se der por satisfeita por apenas estar em campo, as chances argentas crescem. Se a Islândia resolver partir para o jogo, aí a chance de partido duro e nervoso aumenta demais.
A Argentina tem histórico de vitórias em estreias, mas vitórias con lo justo, apertadas, mesmo contra países estreantes em Mundiais, como ocorreu em 1998 (1 a 0 no Japão), 2006 (2 a 1 na Costa do Marfim) e 2014 (2 a 1 na Bósnia). Será o caso da Islândia amanhã. Uma vitória mínima deste tipo seria sim um excelente negócio para Sampaoli, Messi e companhia. Quase uma goleada, para ser sincero.
Vamos comentar a estreia argentina na transmissão ao vivo do UOL Esporte, como faremos em todo o Mundial. Todos são muy bienvenidos. O blog está no ar desde o comecinho de 2016 procurando descrever e ambientar absolutamente todos os passos desta louca aventura que começa daqui a pouco em Moscou.
Hoy es hoy, Argentina. Un lindo Mundial para todos.