Patadas y Gambetas

‘Levar 6 a 1 do Palmeiras foi tortura’, diz Menotti, técnico do Boca em 94

Tales Torraga

Quem lê sempre o blog sabe que o gente finíssima César Luis Menotti é figura cativa por aqui. Técnico campeão da Copa do Mundo de 1978, ele nos deu entrevistas saborosas sobre muitos assuntos – destacamos o Brasil x Argentina de 1982 e a sua opinião sobre Pelé ter sido bem melhor que Diego Maradona.

César Luis Menotti em foto recente na sua Rosário natal – Salvador Valente

Mas algo o deixa levemente irritado: falar do 6 a 1 que o seu Boca Juniors levou do Palmeiras na Libertadores de 1994, na pior derrota xeneize na história do torneio.

Eloquente sobre qualquer assunto – e Menotti realmente tem propriedade para falar sobre muitos temas que não um pé e uma bola -, El Flaco, hoje com 79 anos, despista com sutileza as memórias daquela noite de quarta no Parque Antarctica.

''O que eu lembro daquele jogo? Lembro que no domingo seguinte fizemos 6 a 0 no Racing na Bombonera'', contou Menotti ao blog, rindo. ''Era um Boca inconstante, tentei fazer o time jogar pressionando o adversário, mas não deu certo.''

Foi esta a chave do 6 a 1 do Palmeiras – o lateral-direito xeneize Soñora avançava e demorava para recuar, sendo um prato cheio para Roberto Carlos, então com 20 anos, deitar e rolar. ''Fizeram um Carnaval. Aquele 6 a 1 foi uma tortura. Mas aquele Palmeiras tinha un equipazo. César Sampaio, Zinho, Edmundo, Rincón, Evair…¡mamita querida! O que mais posso dizer? Foi um dos maiores bailes que levei, claro, como não? Mas lembre também que na Bombonera ganhamos por 2 a 1.''

(E Edmundo e Rincón ainda não jogaram no Parque Antarctica.)

Embora tenha ocorrido ainda na metade da fase de grupos, a imprensa argentina não perdoou a catastrófica atuação do Boca.

Repercussão da surra palmeirense em 1994 – Reprodução

O mais ácido foi o jornal ''Crónica'': ''Palmeiras ganha o primeiro set: 6-1!''

Os dois maiores diários do país foram menos estridentes. Vale lembrar que o ''Olé'' ainda não existia – seria fundado só em 1996. O ''La Nación'' resumiu a atuação do Boca a uma ''goleada sem respostas''.

O ''Clarín'' aplaudiu o Palmeiras, mas criticou com força os zagueiros do Boca, ''que deram vários gols de presente''.

O Palmeiras atuou naquela partida histórica com: Sérgio, Cláudio, Antônio Carlos, Cléber e Roberto Carlos; César Sampaio (Tonhão), Amaral, Mazinho (Jean Carlo) e Zinho; Edílson e Evair. O técnico era Wanderley Luxemburgo (que ainda grafava o nome com W e Y), cumprimentado a sós por Menotti depois daquele jogo. ''Lembro que ele não acreditou naquele placar. Nem eu…'', ri o Flaco (''Magro'') argentino.

A formação do Boca: Navarro Montoya, Soñora, Noriega, Giuntini e Mac Allister; Peralta, Mancuso, Márcico e Carranza; Martinez e Da Silva (Acosta).

Apenas 18.285 pagantes comemoraram no Parque Antarctica os gols de Cléber (21min do primeiro tempo), Roberto Carlos (7 do segundo), Evair (18 e 26min do segundo tempo) e Jean Carlo (32min do segundo). O gol de honra do Boca foi de Manteca Martínez, de pênalti, aos 34min da etapa final.

O Boca seria eliminado logo na primeira fase, e como lanterninha do grupo. O Palmeiras tampouco durou muito mais: caiu ante o São Paulo logo nas oitavas.

O campeão daquela Libertadores foi argentino: o Vélez de Bianchi e Chilavert.

* Atualizado: O Brasil talvez não assimile bem a figura mítica que é Menotti na Argentina e em todo mundo. Ontem (9) à noite, ele lançou a sua escola de treinadores em Buenos Aires. Os presentes? Muitos e de muita trajetória: Jorge Sampaoli, Rodolfo D'Onofrio (presidente do River), Pato Fillol, Nery Pumpido, Julio Villa (campeão mundial em 1978), Juan Pablo Sorín e Leonardo Patadas Ponzio.

Reparem nos semblantes e notem quem ensina e quem aprende…. – Diego Borinsky/Reprodução

Outros que gravaram vídeos foram Pep Guardiola, Bernd Schuster, Jürgen Klinsmann, Xavi Hernández e Javier Mascherano.

Menotti é uma lenda na Espanha e Alemanha. ''Eu mataria por ele'', disse Schuster. ''Aprendi muito com sua experiência e conhecimento'', completou Klinsmann.

Ao Flaco, nossa reverência.