Patadas y Gambetas

Soco, pisão e pedrada: o Palmeiras x Boca mais louco da história

Tales Torraga

Palmeiras e Boca Juniors se cruzam esta quarta (11) no Allianz Parque, às 21h45 (de Brasília), no primeiro jogo oficial entre ambos desde 2001. Vale resgatar o que ocorreu 17 anos atrás. Foi o jogo mais louco da história do duelo. E disparado.

Era a partida de volta da semifinal da Libertadores. A ida, na Bombonera, foi 2 a 2, com uma arbitragem escandalosa do paraguaio Ubaldo Aquino. Ele deu um pênalti inexistente para o Boca e ignorou uma penalidade clara para o Palmeiras. Os xeneizes bateram à vontade – especialmente o volante colombiano Serna, o mais violento daquele time. Até o goleiro Marcos sofreu. Caído no gramado, teve a mão pisada covardemente por Burdisso. Os gols do Palmeiras foram de Alex e Fábio Júnior; Barijho e Schelotto – hoje técnico do time – marcaram para o Boca.

(Ironia: o Palmeiras x Boca valia também vaga no Mundial para enfrentar o Bayern. O outro finalista da Libertadores seria o Cruz Azul, e mexicanos não iam a Tóquio.

Era o segundo ano seguido em que o confronto definia a passagem para o Mundial. Em 2000, o Boca ergueu a Libertadores em cima do Palmeiras em pleno Morumbi.)

O baile de Riquelme no Parque Antarctica – Olé/Reprodução

Em entrevista dada em 2012 ao programa Animales Sueltos, da TV argentina América, Juan Román Riquelme, o craque daquele Boca, relembrou detalhes do confronto de 2001. A primeira tensão foi logo na chegada do ônibus argentino ao Palestra Itália, quando fecharam o portão que daria acesso ao veículo. ''A torcida veio para cima do nosso ônibus. Ele trepidava'', contou Román.

Depois, quem trepidou foi o Palmeiras.

Aos 17 do primeiro tempo já estava 2 a 0 para o Boca, com um show inesquecível de Riquelme, de só 22 anos, naquele que talvez tenha sido o maior baile de um jogador argentino em cima de um time brasileiro na Libertadores.

No primeiro gol de Boca, de Gaitán (não confundir com o meia hoje no Benfica), a comissão técnica xeneize simplesmente arrebentou o banco de reservas do Parque Antarctica. O segundo gol foi uma pintura: Riquelme passou por Felipe e Alexandre e chutou rasteiro no canto direito de Marcos.

O Palmeiras descontou aos 36, com Fábio Júnior.

Logo depois, a loucura.

Dois torcedores do Palmeiras deram murro e voadora – trompada en la cara y patada voladora – no bandeirinha colombiano Daniel Wilson, exigindo seis minutos de paralisação do árbitro Óscar Ruiz.

Os argentinos até hoje não entendem como a partida não foi encerrada ali.

Na sequência, o zagueiro palmeirense Alexandre levou um cartão vermelho direto por duas atitudes insanas: um pontapé criminoso no zagueiro Traverso e um pisão na cabeça do volante Serna.

Aí, agrediram o técnico Carlos Bianchi. Expulso na primeira partida, estava em uma cabine do Parque Antarctica, quando tomou uma pedrada que abriu a sua cabeça.

O segundo tempo continuou com o baile de Riquelme, que seguiu levando a melhor sobre as patadas de Argel, Magrão e Galeano – os três, na típica rispidez argentina, enquanto a arte de Román esteve à altura dos maiores craques brasileiros.

''O Galeano me deu um soco na boca. Sem bola. Fui e apertei a mão dele, lhe dando os parabéns. Só queria jogar'', seguiu Riquelme em sua entrevista à TV América, debochando da pressão palmeirense: ''Aquele jogo estava bom, hein?''.

''Calenchu'' na Argentina é quem não sabe perder… – Olé/Reprodução

''Com 14 anos eu jogava na favela contra os adultos valendo dinheiro. Era a briga que terminava o jogo. Ninguém me defendia. Por que iria tremer contra o Palmeiras?'', seguiu em sua famosa entrevista, relembrando que nos tempos de pibe ele driblava marcadores que jogavam com um revólver na cintura.

O Palmeiras achou o gol de empate  – 2 a 2, gol contra de Bermúdez – no meio do segundo tempo e igualou o placar da ida. A partida foi para os pênaltis, e o Boca despachou o Palmeiras com uma ajuda polêmica: o roupeiro xeneize Roberto Prado, atrás do gol, lia ao goleiro Córdoba um papel com os cantos preferidos dos cobradores palmeirenses. Defendeu os de Alex e Basílio. Arce chutou no travessão.

Para terminar, poucos brasileiros sabem, mas aquele Boca brigava demais entre si, e os jogadores comemoram a classificação no vestiário xingando os dirigentes (entre eles o então mandatário Mauricio Macri, hoje presidente da Argentina) e pintando camisetas com ofensas até contra os psicólogos.

Por aquele baile, muitos corintianos batizaram seus filhos de Riquelme.

Não sabiam depois onde enfiar a cara quando o ídolo do Boca, de longe, surpreendeu Cássio e tirou o Corinthians da Libertadores de 2013 no Pacaembu.

Um compilado da magia de Riquelme no Parque Antarctica em 2001 está aqui.

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PALMEIRAS – Marcos; Arce, Alexandre, Leonardo e Felipe (Argel); Galeano, Magrão, Alex e Lopes; Juninho (Muñoz) e Fábio Júnior (Basílio).
Técnico: Celso Roth

BOCA JUNIORS – Córdoba; Ibarra, Bermúdez, Burdisso e Matellán; Pinto (Battaglia), Serna, Traverso e Riquelme; Giménez (Delgado) e Gaitán.
Técnico: Carlos Bianchi

Local: Parque Antarctica, em São Paulo
Árbitro: Óscar Ruiz (COL)
Cartões amarelos: Marcos, Leonardo, Argel, Magrão e Fábio Júnior; Córdoba, Ibarra e Gaitán
Cartões vermelhos: Alexandre e Matellán
Gols: Gaitán, aos 2min, Riquelme, aos 17min, e Fábio Júnior, aos 37min do primeiro tempo; e Bermúdez, contra, aos 22min do segundo tempo
Pênaltis: acertaram Riquelme, Delgado e Bermúdez; Lopes e Muñoz