Famoso por choro contra o São Paulo, atacante hoje enfrenta AVC e falência
Tales Torraga
Esforçado atacante do Newell's Old Boys, Julio Zamora ganhou fama na Argentina por ser o retrato da derrota para o São Paulo na Libertadores de 1992. Sua imagem em prantos no chão do vestiário do Morumbi foi eternizada pela revista ''El Gráfico'' naquela que virou uma das fotos mais emblemáticas do país daqueles tempos. Zamora tinha motivos para tamanha dor: instantes antes, convertera seu pênalti diante de Zetti e dos 105.185 torcedores presentes ao estádio naquela noite.
O atacante tinha 26 anos e vivia o seu auge – em 1993, seria convocado para defender a seleção argentina e ganharia a Copa América, título que a azul e branca não voltou a repetir desde então. Sua carreira foi longa: Zamora correu atrás da bola até 2000, quando pendurou as chuteiras vestindo a camisa da Platense.
O seu nome estava bastante esquecido na Argentina até novembro passado, quando virou notícia por uma triste razão: técnico do Real Potosí, da Bolívia, ele sofreu um AVC em plena partida contra o Universitário, um adversário local.
Zamora parou de trabalhar e começou a encarar um drama bem pesado.
''O contrato com o Real era até o fim do campeonato, mas quando me internaram [em novembro], o clube parou de me pagar a mim e aos ajudantes'', disse Zamora ontem (6) ao canal de TV TyC Sports, da Argentina, chorando. ''Eu e minha família penhoramos tudo o que tínhamos. O que ganhamos com o futebol, perdemos. E agora o que está em jogo é o meu carro. Os dirigentes do Potosí sequer me telefonam. Estou com problemas na visão, e mal enxergo. Os médicos disseram que vai levar um tempo para eu me recuperar, mas pelo menos eu estou vivo.''
O ex-atacante tem uma dívida de 20 mil dólares com o hospital que o tratou na Bolívia – segundo ele, o Potosí não quer assumir os gastos.
Julio está com 51 anos. ''Espero que os dirigentes assumam suas responsabilidades. Se eu estivesse em uma condição tranquila, não reclamaria nada, mas eles fizeram um projeto comigo, e agora dizem que não têm dívida nenhuma. Isso é o que mais me dá bronca.''
Tanto o Newell's quanto o Cruz Azul do México, onde também jogou, estão ajudando o ex-atacante financeiramente.
Julio segue morando na Bolívia. É a maneira que encontrou de reforçar o processo que move contra o Real Potosí. O Newell's já abriu uma rifa e já se colocou à disposição para pagar o seu transporte caso ele queira voltar à Argentina.
(Que gigante gesto de dignidade e solidariedade seria dado ao mundo se o São Paulo e os são-paulinos também colaborassem de alguma maneira…)