Brasileiro sonha em ser como argentino, diz Guiñazú
Tales Torraga
É impossível falar dos argentinos que se destacaram no futebol do Brasil sem citar o volante Pablo Guiñazú, que suou toneladas com a camisa do Internacional e virou um ídolo para os colorados. E em entrevista de dez páginas publicada pela revista ''El Gráfico'' que acaba de chegar às bancas em Buenos Aires, ele define a sua relação com o Brasil com bastante carinho – mas também dando o que pensar.
''Os brasileiros sonham em ser como os argentinos na atitude e na personalidade. Rivalidade? Pode esquecer. Eles nos adoram'', declarou o volante de 39 anos, que segue em atividade pelo Talleres de Córdoba, equipe tradicional do interior da Argentina e que acaba de voltar à Primeira Divisão do país.
Guiñazú chegou ao Inter em 2007, vindo do Libertad, do Paraguai. Só deixou Porto Alegre em 2012. ''O primeiro que me mostraram é que ali eles gostavam da personalidade e do caráter. O brasileiro chama de 'raça': correr, se atirar no chão, e isso eu tinha do futebol paraguaio, que é muito duro no físico. Em pouco tempo, começaram a vender bonequinhos meus. Me deram um carinho enorme. De cara.''
A adoração colorada por Guiñazú era tamanha que muitas crianças imitavam o seu corte de cabelo – apenas um moicano no centro da cabeça rapada. ''Eu ia buscar os meus filhos no colégio e via os coleguinhas com este cabelo. Não sabia onde enfiar a cara. Pedia sempre desculpas para as professoras'', seguiu à ''El Gráfico''.
''Quando cheguei ao Brasil, me davam cartão amarelo em todos os jogos. Sempre me caracterizei por pressionar e dividir forte, e o jogador brasileiro tem a mania de se jogar muito e de gritar, então antes de eu chegar já se jogavam e gritavam, e assim me deram muitos cartões injustamente. Conversei no clube e mostraram os vídeos aos árbitros, e tudo foi se acomodando.''
''No Brasil, eu roubava a bola e tocava logo para o primeiro companheiro porque eles jogam muito bonito. Jogam muito bem. Trouxe a roda de bobinho para o Talleres justamente por isso.''
A Tite, seu comandante no Inter, muitos elogios: ''É o melhor técnico brasileiro e um dos melhores da América do Sul. É um ser humano espetacular, muito preparado, te ensina maravilhosamente, não me surpreende que esteja tão bem na seleção''.
O volante depois defendeu o Vasco, entre 2013 e 2015. E também fez muitos elogios ao Rio, cidade que aproveitou mantendo um costume bem argentino – quando perdia, não punha o nariz na rua: ''O Rio é muito lindo. Passei anos espetaculares. O clima é ótimo, ter as praias todas perto faz com que você aproveite mesmo. Só não no dia em que perdia. Eu, pelo menos, não saía''.
Aos 37 anos, saindo do Vasco e já defendendo o Talleres, uma cotovelada arrebentou sua mandíbula logo no primeiro amistoso pelo novo clube. Guiñazú iria se aposentar, mas mudou de ideia depois de falar com a mulher: ''Ela me chamou de cagão. Fiquei quase um mês sem comer, mas continuei jogando''.