Análise: Boca e River põem medo. Os outros argentinos, não
Tales Torraga
Os grupos da Libertadores-2018 estão aí. Vamos então pintar a cor local argentina para saber o que esperar de cada um dos sete representantes do país que mais vezes ganhou a Copa – 24 títulos, contra 18 do Brasil.
Dessas 24 taças, nada menos que 21 delas estarão em campo na edição 2018. Argentinos Juniors, Vélez Sarsfield e San Lorenzo são os campeões ausentes.
Os sete argentos que vão dar briga em 2018 são:
BOCA JUNIORS (adversário do Palmeiras)
Seis vezes campeão / Dez vezes finalista / Está da Libertadores pela 27ª vez
Líder do Campeonato Argentino
Técnico: Guillermo Barros Schelotto (desde mar.2016)
Ocupa a liderança do Campeonato Argentino há mais de um ano. É um grande time, mas entra na Libertadores pressionado demais pela distância de sua última Copa erguida – só em 2007, quando Riquelme bailou o Grêmio. Vai contar com um ataque poderosíssimo com Tevez, Ábila e Pavón, trio que será abastecido pelo pícaro colombiano Cardona. Os pontos fracos são o goleiro, a defesa e a atual falta de capacidade em mata-matas – o que não condiz com sua tradição copeira.
A Bombonera vai ser o alçapão selvagem de sempre, mas o Boca – necessário enfatizar – vai precisar aprender a lidar com a impaciência da sua torcida, incomodada com o sucesso recente do River. Este é o tema do momento da Argentina: quem chega mais forte à Copa, River ou Boca? Pelo conjunto, Boca. Pela capacidade copeira, River, em que pese os lamentáveis 23 minutos de Lanús.
Scocco e Pavón – Olé/Reprodução
RIVER PLATE (adversário do Flamengo)
Três vezes campeão / Cinco vezes finalista / Participa pela 34ª vez
17 º no Campeonato Argentino
Técnico: Marcelo Gallardo (desde jun.2014)
O time está muy motivado para enterrar o péssimo desfecho de 2017 e a eliminação para o Lanús. A chegada de Pratto a Núñez é tida como certa. O time terá o retorno dos defensores Martínez Quarta e Mayada, suspensos por doping. É uma seleção vestida de vermelho e branco – e com o bônus de ter o técnico que, para muitos, por mérito deveria estar no lugar que hoje é de Jorge Sampaoli.
Inevitável: este River vai dar cada passo sempre olhando para o lado e vendo o que faz o rival Boca para tentar fazer ainda melhor. A má colocação no Argentino é reflexo de duas coisas: 1) Priorizar a Libertadores; 2) Deprimir-se depois da dura queda ante o Lanús. Então, 3), que todos esperem um River mordido e bélico.
INDEPENDIENTE (adversário do Corinthians)
Sete vezes campeão / Sete vezes finalista / Participa pela 20ª vez
6º no Campeonato Argentino
Técnico: não tem
O atual campeão da Sul-Americana tenta sobreviver a um tremendo desmanche que já culminou com a saída do técnico Ariel Holan e com a extremamente provável despedida do craque do time, o atacante Barco, de 18 anos, que ir jogar no Atlanta United. Bastante complicado que a equipe faça bom papel e resgate a mística de ''Rey de Copas''. Está mais para o Independiente de presença pálida que vimos em 2004 e 2011, eliminado logo na primeira fase. Ojo: jogar em Avellaneda vai ser mais difícil para os brasileiros. A torcida está revoltada com as ameaças dos barra bravas e promete se mobilizar para ajudar o time, por pior que ele esteja.
ESTUDIANTES (adversário do Santos)
Quatro vezes campeão / Cinco vezes finalista / Participa pela 15ª vez
13º no Campeonato Argentino
Técnico: Lucas Bernardi (desde set.2017)
É um time que não melhorou nada depois da eliminação na primeira fase na última Libertadores. Pelo contrário: dá para dizer que até piorou. Juan Sebastián Verón já é um presidente questionado, e o time levado a campo não tem jogadores que encantem ou ameacem os brasileiros. Destaques? O goleiro Andújar, o zagueiro Desábato (aquele da cena de racismo com Grafite) e o meia Gata Fernández, liberado pelo Grêmio sem deixar saudades. Muito pouco, convenhamos.
RACING (adversário do Cruzeiro)
Uma vez campeão / Uma vez finalista / Participa pela 9ª vez
14º no Campeonato Argentino
Técnico: Chacho Coudet (desde dez.2017)
Incógnita. Esta é a melhor (in) definição sobre o Racing 2018. O técnico acaba de ser apresentado: o explosivo Chacho Coudet, ex-Rosario Central, dos maiores malucos da história da Argentina e do planeta. O craque Lautaro Martínez, atacante de 20 anos, deve ir para a Europa em questão de meses (ou até semanas). Vai ficar tudo nas costas cansadas do guerreiro Licha López, de 35 anos e 3.500 contusões, como cantaria Joaquín Sabina. A única ponderação é a presença do rival Independiente: o Racing vai se superar e brigar com tudo para não ficar por baixo.
ATLÉTICO TUCUMÁN (não enfrenta brasileiros na fase de grupos)
Jamais foi finalista ou campeão / Participa pela 2ª vez
15º no Campeonato Argentino
Técnico: Ricardo Zelinski (desde jun.2017)
É o pequenino briguento. Extremamente esforçado, mas extremamente limitado, como mostrou na final da Copa Argentina há duas semanas, quando perdeu por 2×1 para o River. O técnico é excelente, mas o time não ajuda. Chegar aos mata-matas será um milagre. Passar para as quartas, então, um título para Tucumán.
BANFIELD (pega o Del Valle-EQU pela pré-Libertadores)
Jamais foi finalista ou campeão / Participa pela 4ª vez
16º no Campeonato Argentino
Técnico: Júlio César Falcioni (desde mar.2016)
Pode oferecer perigo com os experientes Dátolo, Bertolo, Mouche e Cvitanich, gente grande e com rodagem por River, Boca e seleção. Tirou a vaga que parecida encaminhada ao San Lorenzo – não é pouca coisa. A preocupação é só com a saúde do técnico Falcioni, na UTI depois de tirar um nódulo na garganta. A equipe diz que espera a recuperação, mas sua presença na Copa é incerta. A estátua do técnico na sede do clube, porém, está garantida e deve ser mostrada em breve.