Mascherano diz que fracassar no Corinthians mudou sua vida: “Foi péssimo”
Tales Torraga
Em entrevista à revista ''El Gráfico'' que acaba de chegar às bancas de Buenos Aires, Javier Mascherano revelou que a passagem pelo Corinthians mudou radicalmente sua forma de ser. E ele usou como exemplo a Libertadores de 2006 e o famoso cartão vermelho que recebeu diante do River Plate, clube que o revelou.
Naquele mata-mata pelas oitavas, o Corinthians milionário da MSI e de Tevez, Mascherano e Carlos Alberto caiu aos pés de Marcelo Gallardo, hoje técnico do gigante de Núñez. Então com 30 anos, veterano e já repleto de lesões, Gallardo primeiro cavou a expulsão de Mascherano no Monumental. No Pacaembu, serviu os gols para Higuaín (e Coelho!) decretar o 3 a 1 para o River que fez a torcida do Corinthians partir para cima da polícia e tentar invadir o campo.
''Marcelo (Gallardo) foi astuto porque o segundo cartão amarelo foi ele que me forçou a receber, exagerando a queda. Aquele meu jogo não foi ruim. Foi péssimo'', relembrou Mascherano à ''El Gráfico''.
O lance trouxe problemas ao volante argentino no Parque São Jorge.
Os corintianos até hoje desconfiam que Mascherano foi expulso de propósito para ajudar o seu River naquele mata-mata: ''Aquele cartão me complicou no Brasil, tanto que os torcedores vieram falar comigo''.
Não era para menos.
O amor do volante pelo River é tão grande que a apresentação em vídeo sobre a história do time, por muitos anos, foi feita justamente por ele no museu do clube.
''Ali, naquele fracasso, percebi que o jogo me transbordou, que eu fiquei totalmente tomado. Sou bastante sensível e me emociono fácil. Choro fácil, também. Fiquei tão perdido que em vez de ir para o vestiário depois da expulsão, dei a volta pelo campo, por trás do gol.''
Mascherano dali em diante decidiu não ''comprometer-se emocionalmente'' com as decisões. Um grande exemplo foi a final do Mundial de Clubes de 2015, quando defendeu o Barcelona de novo diante do seu River. Além de não acenar para a torcida, Masche sequer olhou para os fanáticos que viajaram da Argentina até o Japão e terminaram chorando a derrota do gigante de Núñez – 3 a 0, fora o baile.
''Qualquer gesto pode ter qualquer interpretação, e depois do que aconteceu com o Corinthians, preferi me afastar emocionalmente em jogos assim. O torcedor é torcedor, mas como vou ter alguma razão para desrespeitar o River, com tudo o que o clube me deu? Enquanto eu me aquecia naquela final no Japão, repetia para mim mesmo: 'Não vá até lá, não se comprometa emocionalmente, você joga como zagueiro central, se for até lá, você vai fazer alguma cagada e o time vai perder por culpa sua. Pensei nisso o tempo todo, desde a semifinal'.''
Não foi o suficiente para conter a fúria dos loucos.
Irritada pela suposta indiferença, a torcida do River tentou agredir Mascherano. Foi no aeroporto de Tóquio, na triste viagem na qual Messi levou uma cusparada de um dos torcedores e precisou ser contido para não sair na mão com os argentinos.
A entrevista de Mascherano à ''El Gráfico'' é imperdível. São 12 páginas profundas e inteligentes de uma revista que circula entre os exigentes portenhos desde 1919.