“Errei ao cortar Maradona da Copa de 78”, admite Menotti
Tales Torraga
Lendário técnico da Argentina campeã em casa da Copa do Mundo de 1978, César Luis Menotti reconheceu pela primeira vez – e quase 40 anos depois! – que errou ao não levar Diego Armando Maradona para aquele Mundial. A ponderação foi feita à Rádio Mitre, em Buenos Aires, e está dando muito o que falar na capital portenha.
''Errei ao não levá-lo, mas depois fomos campeões e ninguém disse nada'', admitiu El Flaco (''O Magro''), como Menotti é chamado até hoje. O ex-treinador está com 79 anos encheu Maradona de elogios, colocando-o bem acima de Lionel Messi: ''Pela seleção, Diego foi o maior de todos. Quando não puderam controlá-lo na Fifa, o assassinaram'', disparou. ''Devo ter sido o técnico que teve Maradona por mais tempo, de 1977 a 1984, porque depois nos encontramos no Barcelona. Diego e eu inventamos um camisa 9 que depois foi um craque, mas não vou dizer quem é.''
Nós dizemos: Ramón Díaz, que começou a carreira no mesmo posto de Maradona.
Menotti, em 1978, precisava relacionar 22 atletas. Concentrou-se com 25, e sua lista final não continha os nomes de Maradona e dos obscuros Victor Bottaniz e Humberto Bravo. Até sua recente reflexão, o ex-técnico dizia sempre que naquela Copa ''precisava de homens, e ele olhava para Maradona e enxergava um menino''.
Diego tinha apenas 17 anos no Mundial 1978. Três meses depois, completaria 18. Mas já era o grande jogador da seleção em 1978, e quem testemunhou a preparação argentina para aquele Mundial jura até hoje que Maradona já era o craque do time. Nem cavalos consagrados como Passarella, Gallego e Tarantini conseguiam pará-lo nos jogos dos titulares contra reservas. Maradona era escalado como suplente para equilibrar as forças – e os reservas ganhavam igual.
Maradona, desta maneira, não pôde repetir Pelé e erguer a Copa aos 17 anos.
Os argentinos que colocam Diego acima de Pelé argumentam sempre que a carreira de Maradona na seleção, com um olhar mais livre e menos aferrado à frieza dos números, é realmente superior à do gênio brasileiro – que, afinal, esteve sempre rodeado de outros gênios do naipe de Didi, Garrincha e Rivellino.
Diego deixou de ser campeão em 1978, aos 17 anos, porque equivocadamente, como reconhece agora Menotti, não foi chamado. Tal experiência certamente favoreceria a Argentina em 1982, naquela que acabou sendo a primeira Copa de Maradona, quando a seleção jogou muito mal porque estava perturbada pela Guerra das Malvinas que ocorria naquele exato e trágico instante.
Em 1986, com uma seleção limitada e que quase não se classificou para a Copa, Diego ganhou o Mundial de um jeito que nem Pelé e nem ninguém até hoje repetiu. Quatro anos depois, foi vice. Perdendo só com um pênalti inexistente e carregando, acima do peso e machucado, uma Argentina fraca que só. Um time de dar pena.
E veio 1994, o seu capítulo final, quando, segundo Menotti, ''a Fifa o assassinou''.
Cortado da primeira e da última Copa. Um título e um vice. Guerras e drogas.
A órbita maradoniana é de arrancar o fôlego mesmo quase 40 anos depois.