Análise: Maior Brasil e menor Argentina se cruzam na final da Libertadores
Tales Torraga
Exatos dez meses e seis dias depois do pontapé inicial, a inflada Libertadores 2017 chega ao fim nesta quarta-feira (29) propondo profundas reflexões. A primeira delas diz respeito à própria duração do torneio. O blog considera um estorvo. O mundo atual vai na contramão de qualquer evento tão pausado e que demore tanto para terminar. Nem a temporada de Fórmula 1, que percorre o mundo todo, é tão longa.
O outro ponto tem a ver com o inchaço desta edição.
O Brasil alinhou oito representantes, a maior quantidade de todos os tempos. Chapecoense, Palmeiras, Santos, Flamengo, Atlético-PR, Atlético-MG e Botafogo também largaram para a competição que hoje vê o Grêmio na final e com a possibilidade de conquistar seu terceiro título, ficando ao lado de São Paulo e Santos como os maiores campeões de Libertadores da história do Brasil.
Circula na Argentina a seguinte piada: os times brasileiros enchem a Libertadores de inscritos e de dinheiro. Mas o campeão é um argentino como sempre.
Nem sempre, é verdade, e a prévia do embate entre o gigante Grêmio e o nanico Lanús oferece desde já importantes assuntos sob uma lupa mais profunda.
A primeira é a verdadeira façanha atingida pelo Lanús, um clube minúsculo de verdade, com menos sócios (40.000) do que a capacidade do seu estádio (47.000).
Para se ter noção do tamanho do Lanús, sua quantidade de sócios é praticamente um quarto do que os maiores clubes da Argentina, River e Boca, detêm. Como avaliar a proeza do Lanús? Como uma prova de que o dinheiro segue não sendo tudo. Ainda há espaço para gente com o pé no chão – e a cabeça não apenas nos cifrões. O time pinta para grandes coisas já há alguns anos. O blog escreveu em 6 de fevereiro que o Lanús era o argentino mais perigoso desta Libertadores. A diretoria e os jogadores colaboraram. Ninguém foi vendido. E os que ficaram suaram toneladas e ''jogaram pela glória'', algo que a Argentina cansa de ensinar.
A campanha argentina nesta Libertadores, vale lembrar, começou com os jogadores em greve geral por falta de pagamentos e com os clubes em total inatividade no campeonato nacional. O país alinhou seis clubes nesta Copa. Godoy Cruz (!), Atlético Tucumán (!!), Lanús, Estudiantes, San Lorenzo e River Plate.
O único clube do país que realmente despontou como candidato a ganhar a Copa foi o River, como repetimos mais de uma vez. Mas o time de Gallardo e Ponzio tanto se viu na decisão antes do tempo que levou a famigerada virada na semi.
É um importante sintoma que esta Libertadores tão, mas tão longa, termine em tal anticlímax. Os jornais argentinos pouco tratam da decisão. Dão mais relevância à chegada do Independiente à final da Sul-Americana. Só o ''La Nación'' traz um conteúdo mais farto a respeito do Lanús, mas exatamente na linha ''quem te viu e quem te vê, antes jogava em estádios sem arquibancadas e agora vai decidir uma Libertadores''. O tom da TV, que ontem enfrentou uma greve geral, é o mesmo. Vamos, Lanús! Termine com isso para falarmos logo de River e Boca.
Bolsos e tamanhos à parte, a Argentina, claro, vê o Lanús campeão.
1) O time jogou melhor que o Grêmio na partida de ida; 2) Já virou placares bem mais complicados; 3) Os argentinos ganharam 10 das 12 finais de Copa disputadas em seu território; 4) Esta Libertadores caótica e desproporcional em integrantes e duração já tem um padrão: o de apresentar campeões inéditos. O Lanús seria simplesmente o quinto campeão calouro nos últimos dez anos, se juntando a LDU (2008), Corinthians (2012), Atlético-MG (2013) e San Lorenzo (2014).
(E nem falamos da loucura e do clima de ''vida ou morte'' que vai transformar a Fortaleza em um caldeirão insano nesta noite. Deixamos para depois do jogo. Uma ótima final de Libertadores a todos. O fim, enfim. Logo nos vemos em Camboriú.)