Como Sampaoli passou de gênio a enganador na Argentina
Tales Torraga
Jorge Sampaoli estreou na seleção argentina há exatos quatro meses. Comandou a equipe em cinco jogos (dois amistosos e três oficiais). Foi apresentado por Chiqui Tapia, presidente da AFA, como ''o melhor técnico do mundo''.
E hoje é motivo de pesada chacota em Buenos Aires.
Aqui pelos lados portenhos, basta um – apenas um – dado para bater com força no capitão do barco azul e branco. Nas últimas cinco partidas desta Eliminatória, a Argentina fez apenas dois gols: um de pênalti inventado contra o Chile. E o outro, um gol contra de um jogador suíço naturalizado venezuelano.
Em campo, a grande razão para ralhar Sampaoli é a sua obsessão por experimentar formações e jogadores quando a situação não é propícia – e sim desesperadora.
Ninguém, por exemplo, entendeu como uma seleção aflita por gols buscou o arco peruano com Papu Gómez (craque do Atalanta!) e um anêmico Benedetto, deixando Dybala e Icardi no banco.
É a loucura das loucuras que Messi, Mascherano, Dybala e Icardi – que brigam por títulos na Europa – estejam ''lutando contra o rebaixamento'' pela Argentina!
É humilhação demais para um povo tão orgulhoso e nacionalista.
Esta Argentina parece maldita, e não faltam sinais negativos que mostram como a ''mufa'' – a famosa ''zica'' – é gigante por esses lados. O acidente de Agüero, a cruel lesão de Gago e o chute de Messi na trave são três cicatrizes abertas que mostram que o corte argentino é profundo e necessita objetividade, não improviso.
É este o atual dilema de Sampaoli.
Insistir em suas invenções e em seu sinuoso raciocínio ou simplificar ao máximo uma tarefa que é sucinta por si só: ganhar ou ganhar do Equador. Ou acabou.
A acidez com o técnico é tal que Pelado Sampa depois do 0x0 com o Peru passou a ser chamado de ''cópia falsa de Agassi'' e ''máquina de vender humo''.
Máquina de vender fumo, máquina de vender fumaça.
A criatividade argentina transborda mesmo nas horas mais pesadas.
Pesada também é a oratória de Sampaoli.
Em sua coletiva depois do 0x0 contra o Peru, ele disparou a resposta que não para de ser repetida pelos argentinos, sempre em tom de muita ironia:
''O jogador precisa ter muita calma e paciência. Se eu divido a palavra, ela vira 'paz e ciência'. Este é o futebol. Às vezes ele te dá, às vezes ele te tira. Às vezes, com muito merecimento, não se ganha. Em outras vezes, sem muito, se vence.''
Ninguém entendeu nada.
Querer demonstrar erudição – sem fazer gols! – é querer ser piada.