Os oito gols do River são oito tapas na cara do Brasil
Tales Torraga
Os oito gols do River no Jorge Wilstermann – o ''Jorge Wilson'' como é chamado em Buenos Aires – são oito tapas na cara do futebol brasileiro.
(Tapas leves, para acordar, sabe quando alguém está dormindo muy profundo, não acorda por nada, e leva uns tabefes só para despertar? É isso, muchachos.
Não pensem violências. Depois de um 7×1 debaixo do nariz? Claro que precisa mesmo esconder a cabeça no travesseiro por uns tempos. Entendemos total.
Tranqui tranqui. Es un juego, divinos!)
Como o Atlético-MG põe a cabeça no travesseiro e pensa o 0x0 com o ''Jorge Wilson'' depois do 8×0 para o River na maior comoção portenha que o blog já viu?
Un despelote total que não impactou só um estádio ou uma cidade – mas um país?
E vocês falam de ''galo doido'', de ''bando de loucos'', de ''avanti palestra''?
¡Porfavor!
Boca de Bianchi? San Lorenzo de Patón? Corinthians de Tite?!
Chicos, vocês não sabem como está Buenos Aires capital….
Com respeito ao Wilstermann: o River o colocou no lugar pequeno de sempre.
Así de una. Nomás. Há uma hierarquia a defender.
A cada Del Valle en La Boca, ou a cada Barcelona ganhando na Vila Belmiro, há um River de Di Stéfano, Moreno, Pedernera, Labruna e Loustau – e Gallardo!
Como, no Brasil, o Corinthians, o Flamengo, o próprio Galo e qualquer outra torcida ''de massa'' bate no peito depois de ver os fanáticos pelo River tomando de assalto o Monumental duas horas antes do jogo?
Superlotando os espaços e vendo os 80.000 loucos jogando junto com o time mesmo com o 0x3 da ida e com a chuva e o frio que fez todo mundo cagar empapado em arquibancadas de quase cem anos – e não num palco virgem neste esquisito mundo novo de arenas em formato de xerox.
Como tolerar o sucesso e as acertadíssimas escolhas de um Marcelo Gallardo, de 41 anos, já considerado – com muitos e todos os méritos – como o maior treinador da história do River Plate desde sua fundação, desde 1901?
Como ouvir a arrogância de um Vanderlei Luxemburgo, no alto da sua sabedoria de ''profexô'', dizer que os treinadores argentinos ''não são tudo isso''?
E os técnicos e clubes brasileiros? Hoje? Onde ''são tudo isso''?
No Cilindro de Avellaneda, onde reclamam da violência? E um corintiano com três minutos em campo le pega una patada en las partes íntimas e é expulso direto feito um ganso, uma criança? E não um profissional que ganha milhões por ano?
Onde os brasileiros têm sucesso hoje? Em Porto Alegre?
Onde gritam o gol argentino de Barrios para pegar o Barcelona na semifinal?!
No Nuevo Gasómetro?
Onde o San Lorenzo começa a Libertadores perdendo para o Flamengo por 4×0 (claro que foi no Maraca) e para o Atlético-PR por 1×0? E esteve a 90 minutos de uma histórica semifinal com o River, enquanto os dois rubro-negros brasileiros estão vermelhos de raiva e negros pela falta de luz por não enxergar adiante?
Não é doping e não é juiz. Água batizada do Branco? 6×0 de 1978?
Que conversem com o mofo e com o bolor. Não nos corresponde.
Tirar os méritos do River e colocar os oito gols na culpa do fraco ''Jorge Wilson''?
Foi afinal o ''Jorge Wilson'' que ganhou dos ''riquinhos'' Palmeiras e Galo – lembrem sempre e sempre.
Não seria esta a chave da questão?
Tomar os outros como referência só para o narcisismo – jamais para aprender?
Como pensar diferente deste lamentável comportamento atual de chorar como criança mimada (interpretação minha), como indicou sabiamente o argentino e académico Mauro Cezar Pereira?
Que esquizofrenia é essa de achar que tudo passa única e exclusivamente pelo mérito e pela culpa brasileira?
Os outros – como o Barcelona do Equador, nem falamos do Barça original, do 4×0 e do 8×0 – não se esforçam, não merecem?
Não transformam sangue em classificação nesta Libertadores?
Talvez seja melhor falar da arbitragem e de complô contra a Conmebol, não, Fágner? (quem? Djalma Santos?)
Falar que os outros times têm mais hombridade que os do Brasil com certeza dói mais – na cara vermelha de vergonha, no bolso lotado de plata e no peito confuso não entendendo nada desta história de ser o mais rico e o menos vitorioso.
Quer entender? Olhe no espelho. Tente enxergar onde está sua hom-bri-dade.
Se não encontrar, dê um pulo em Núñez, onde existe até uma faculdade (algum clube do Brasil possui uma universidade dentro de suas instalações?).
É bem capaz que lá sim ache.
A Argentina ''falida, decadente e transtornada'' que não pagava salários e começava a Libertadores em greve agora tem dois semifinalistas – e o Brasil um só.
Un beso a todos! Y con cariño, eh?! Somos hermanos! Tranqui…
*Atualizado: A semifinal da Libertadores será River x Lanús – como estamos repetindo desde 6 de fevereiro, 28 de abril, 9 de agosto e 15 de setembro. Locos, o discurso é livre – e está ótimo que todos possamos falar.
O que temos para falar aqui, neste gigante UOL, é isso. Há sete meses insistimos no cenário que se concretizou agora. Mantivemos nossa aposta mesmo depois das derrotas elásticas das idas.
Sampaoli: Scocco é argentino, e Enzo Pérez também!