O que está por trás da escolha da Bombonera para a decisão Argentina x Peru
Tales Torraga
É oficial desde esta tarde. Argentina e Peru vão se enfrentar na Bombonera no próximo dia 5 pela penúltima rodada das Eliminatórias. A partida estava traçada para ocorrer no Monumental de Núñez, mas AFA, Fifa e Conmebol já se acertaram e farão em breve o anúncio que o preocupante duelo ante os peruanos será no bairro de La Boca – como tanto queriam os jogadores e o técnico Jorge Sampaoli.
A AFA desde o começo se opôs à mudança, mas se viu muy pressionada pelos jogadores, que mais que pediram – praticamente exigiram atuar na Bombonera. Haverá menos dinheiro nos cofres da Associação: 13.000 entradas a menos para vender e lucrar uma enorme, imensa irritação dos patrocinadores e toda a equipe de logística. Mas os jogadores avaliam que assim vão receber um apoio maior.
Será? Não é este o perfil familiar do torcedor portenho pela seleção. Impossível imaginar que ele fará a Bombonera tremer, como treme nas partidas do Boca.
O que pode haver sim é um aumento de pressão, pois a bronca argentina com esta seleção é a maior dos últimos tempos. Os mais veteranos por aqui dizem que desde 1985, com Bilardo, Maradona e Passarella, que a Argentina não se via tão questionada e sem saber o que fazer. Tanto isso é verdade que a estratégia de jogar em palcos diferentes dos habituais por questões populistas ou esportivas já foi adotada no passado e foi um fracasso. Uma delas foi contra o Brasil, em 2009, quando a seleção de Diego Maradona foi atropelada pelo Brasil de Dunga – um histórico 3×1 em Rosário. A mesma Bombonera foi adotada como palco para tentar frear o mesmo Peru em 1969. Foi 2×2. O Peru se classificou. A Argentina ficou fora.
Quase 50 anos depois, não dá para dizer que aprenderam. É uma loucura que uma seleção desesperada por melhorar e jogar bem fique gastando tempo e energia com mudanças de estádio. E o que pior: em um lugar onde os problemas acontecem sempre, e basta conversar com um punhado de argentinos que seja para prever que a partida contra o Peru tem tudo para terminar mal – ou pelo lado argentino ou pelo peruano, que desde já se opõe a jogar no estádio que não cumpre as normas de segurança e que não estava inscrito no prazo válido, como alegam. A burocracia, claro, foi atropelada. Resta saber como farão com os torcedores do Peru que querem 15.000 entradas no estádio onde mal cabem 50.000. Este foi um dos principais temas da comitiva peruana que esteve na Bombonera nesta terça (12). Uma recusa em jogar já lá não se prevê mais. Mas uma novela insana por temas irrisórios já está em curso.
Para piorar de vez o ambiente, um ídolo do futebol do Peru, El Patrón Velásquez, fez um grave alerta e disse esperar de tudo para a partida do dia 5, até suborno ao árbitro, agressão física e envenenamento. Velásquez estava em campo no Peru x Argentina de 1985 que selou a ida de Maradona, Ruggeri e companhia para o México-1986. E contou que os argentinos jogaram com as mãos cheias de pomada de menta para passar nos olhos dos peruanos naquela tarde no Monumental.
Voltando a 2017, a atual Argentina não sabe o que é jogar na Bombonera e em como esta pressão pode ser prejudicial para uma seleção que precisa de paz – e não de mais pressão em um ambiente já insuportável. Os psicólogos portenhos estão na TV e cravam sem meias-voltas: esta mudança de estádio é claro sinal do pânico que ronda o time em não ir para a Rússia-2018. É o famoso tirar o foco do que é importante e de como os jogadores encontraram um tema para se encostar e desviar a atenção do quanto todos estão devendo com a bola rolando.
Messi, Dybala e Icardi, o trio maravilha do ataque argentino, jamais pisou no estádio. Nenhum deles sequer atuou no Campeonato Argentino (sim, sabemos que Dybala jogou no Instituto na Série B, mas na Série A nunca). É estranho – quase catastrófico – que a opinião de jogadores tão pouco conhecedores das mazelas da Bombonera seja tão levada em consideração.
A explicação para tudo isso?
A AFA recém-assumida sabe que em caso de derrota e não ida à Rússia, terá sua morte política decretada. Apesar de ser, em última análise, um tanto quanto sem sentido, o capricho dos jogadores foi levado adiante por uma única razão: para a AFA poder ter uma desculpa e culpá-los depois caso não se classifiquem.
Não há desculpas e não há mais blindagem, jogadores. Agora é 1000% com vocês.
Lavamos nuestras manos.