O Peru está mais do que certo em vetar a Bombonera
Tales Torraga
O Peru tem toda a razão em se recusar a enfrentar a Argentina na Bombonera no próximo dia 5, como mandou em documento à Fifa neste fim de semana.
Não há muito o que discutir e até os mais fanáticos torcedores do Boca reconhecem. A Bombonera é um estádio selvagem e ultrapassado – e que só continua com os portões abertos graças aos desmandos do futebol argentino.
A opinião pública em Buenos Aires trata a atitude do Peru como medrosa e diz que o visitante não tem direito de escolher onde jogar, e que tais coisas com Julio Grondona, o nefasto e perpétuo presidente da AFA, não aconteceriam.
E queimar os olhos dos jogadores do River com o gás que as mulheres usam para se defender dos abusadores? Aconteceria em outro lugar que não a Bombonera?
Técnico do Peru, Ricardo Gareca conhece a Bombonera muitíssimo bem.
De 2009 a 2013, dirigiu o Vélez e cansou de visitar o estádio. El Tigre Gareca foi um atacante revelado pelo Boca e defendeu o clube até 1984, quando precisou lidar com uma das maiores crueldades da Argentina. Foi para o River e a torcida do Boca então passou a cantar ''Gareca tem que morrer / E de câncer sofrer''.
É inevitável pensar que logo vão ameaçar Gareca de morte e escrever para ele ''não esquecer que é argentino e que as rotas de sua família são bem conhecidas'' por todo o país.
Que loucura.
É uma loucura também que esta Argentina tão milionária e badalada queira amedrontar o Peru, que sabiamente já se recusou, em papel timbrado, a colocar os pés na arapuca que seria a Bombonera para este confronto decisivo.
Ou faz sentido enfrentar a Argentina em um estádio onde te cospem e te atiram de tudo em um escanteio, onde as tribunas mais agressivas ficam em cima do banco de reserva adversário, onde a distância entre o campo e a arquibancada ignora qualquer bom senso?
Faz sentido que os argentinos sigam insistindo que ''escolham a cancha que quiserem porque vamos passar por cima'' depois do papelão que foi empatar com a Venezuela no Monumental?
A partida será no Monumental de Núñez, insistimos nisso desde a semana passada, e só uma reviravolta a cada dia mais improvável vai mudar esta sede. Os bastidores argentinos são repletos de falcatruas – é essencial desconfiar sempre das mais diversas versões. Vamos juntos tentando separar la paja del trigo.
Faz sentido que a Argentina garanta a segurança do Monumental depois do que aconteceu na partida que selou a queda do River para a B Nacional, quando os torcedores queimaram o estádio e quando os barras bravas invadiram o vestiário do árbitro no intervalo para ameaçá-lo?
O Peru tem todo o direito de exigir jogo limpo desde agora. Quando mandam seus jogos, os peruanos não elegem a altitude (como Bolívia ou Equador) ou o calor infernal (Venezuela e Colômbia). Merecem nosso respeito.
Por que a Argentina não decide jogar na Europa, onde seus jogadores destroem as defesas todas as semanas e onde se sentem bem, e não nesta verdadeira ciudad de la furia (gracias, Cerati) que virou Buenos Aires desde o jogo com a Venezuela?
Esta versão já circula entre os dirigentes, que avaliam esta possibilidade e pretendem levá-la adiante ou descartá-la oficialmente até amanhã (12).
Jogar na Europa é bizarro? Claro que é.
E a história da seleção argentina? É o quê?!