Impasse por dinheiro arrisca vaga argentina na Copa
Tales Torraga
As pulsações continuam elevadíssimas em Buenos Aires depois do papelão que foi empatar com a Venezuela no Monumental de Núñez. O 1×1 da noite passada humilhou tanto os portenhos que não haverá mesmo outro assunto daqui até 5 de outubro, quando a Argentina enfrenta o Peru – e de novo no estádio do River.
E é a própria escolha do estádio para a próxima partida que mostra como esta Argentina está correndo atrás da cenoura errada.
Segundo apurou o blog, tanto a comissão técnica da seleção quanto os jogadores detestaram o ambiente do estádio e manifestaram interesse em trocar de sede. É fato: o Monumental nesta terça parecia um teatro, e o silêncio predominou na maior parte do jogo. A frieza foi maior até que de uma partida vivida na Europa. Este é um dos selos portenhos da atualidade: algo no me gusta? Vou ignorá-lo.
O clima em Núñez foi tão raro que o narrador Mariano Closs, das vozes de maior peso da rádio argentina, passou a partida ironizando aquele que citou como ''das maiores geladeiras já vistas, um teatro que escancara a distância entre a torcida e esses jogadores''.
A tentativa de mudar de sede para o decisivo (e complicadíssimo) jogo contra o Peru não vai para a frente por mero impasse financeiro. Nesta quarta, surgiram notícias aqui pelos lados portenhos que duas novas sedes estavam sendo trabalhadas, a Bombonera ou o Estádio Mario Kempes, em Córdoba.
Mas nenhuma vai ser colocada em prática.
A razão? Esta AFA (sigla da Associação de Futebol Argentino) que é comandada por Chiqui Tapia desde março fechou um contrato com o River para alugar o Monumental por um preço simbólico. E é claro que a grande capacidade do lugar interessa a todos: foram colocados à venda 61.688 ingressos para a partida contra a Venezuela, com preços entre R$ 50 e R$ 500 – e todos se esgotaram duas semanas antes da partida. Estima-se que a bilheteria da partida de ontem conferiu cerca de 30 milhões de pesos (em torno de R$ 4,28 milhões) aos cofres da entidade.
A AFA, vale lembrar, está cheia de dívidas e brigando até por centavos – e daí vem a situação de conflito entre os interesses financeiros da associação e o pedido esportivo dos atletas por una cancha más caliente. E tudo isso com um inacreditável pano de fundo, a louca pressão que a Argentina vive de agora até o fim das Eliminatórias com a considerável possibilidade de sequer ir ao Mundial.
Outra razão para a Argentina continuar em Núñez é a logística. O CT da AFA fica em Buenos Aires, e ir para outra província em jogo tão decisivo seria improdutivo neste sentido. A AFA tampouco pensa em pisar na Bombonera, onde perdeu a vaga para a Copa de 1970 justamente para o Peru que reencontra no dia 5.
Mesmo com a verdadeira irritação dos jogadores e de Jorge Sampaoli, a Argentina, salvo alguma reviravolta, vai seguir no Monumental, que ontem fez jus ao apelido que os rivais do River cansam de repetir ao ironizar o estádio.
Foi o ''Mudomental'' de Núñez como o blog jamais viu.