Entenda por que Uruguai x Argentina será o “clássico da mordaça”
Tales Torraga
De um lado, Messi e Dybala. Do outro, Cavani e Suárez, que tenta se recuperar milagrosamente de uma lesão no joelho. Entre todos, um ponto de contato que dificulta demais o trabalho da imprensa aqui em Montevidéu e em Buenos Aires: a ''mordaça'' que Argentina e Uruguai impõem aos jornalistas.
As duas seleções se cruzam nesta quinta (31), às 20h (de Brasília), no mítico Estádio Centenário, pelas Eliminatórias.
Os jogadores da Argentina não falam com os veículos de comunicação desde novembro, quando foi noticiado que o atacante Ezequiel Lavezzi fumou maconha na concentração antes da partida contra a Colômbia.
O responsável por levar a notícia ao conhecimento público foi o radialista portenho Gabriel Anello. Lavezzi – que não foi convocado desta vez – ameaçou processar o radialista. Ficou só na ameaça. O que persiste desde então é a greve de silêncio.
O único que fala pela seleção argentina é o técnico Jorge Sampaoli, que ontem em Buenos Aires deu uma entrevista coletiva clara e cheia de detalhes, numa postura mais profunda e embasada que as loucuras de Patón Bauza, que chegou a bradar que ''não sabia o que fazer depois de ganhar a Copa com a Argentina''.
A mordaça uruguaia é um pouco mais sensível e tem a ver com a Tenfield, empresa que detém os direitos de transmissão do futebol uruguaio na TV.
A seleção desde março está em lítigio com os valores desembolsados pela Tenfield. Por isso, há a recusa geral de falar com os jornalistas da emissora e qualquer empresa ligada ao grupo que ela representa.
Entrevistas no campo de jogo? Nem pensar.
Os jogadores também exigem que sejam consultados antes de dar entrevistas em frente aos banners de publicidade. Foi o que ocorreu no Complejo Celeste, Centro de Treinamento uruguaio, nesta terça-feira.
Os dois jogadores escalados para falar, Diego Godín e Matías Vecino, o fizeram em frente a um cartaz onde só havia o logotipo da AUF (a Associação Uruguaia de Futebol), da Fifa e da Conmebol. A Tenfield não participou – ela só teve acesso ao técnico Óscar Tábarez e ao médico da seleção, o doutor Alberto Pan.
Apesar da reclamação dos patrocinadores, que perdem dinheiro e espaço considerável de exposição na mídia, não há uma queixa específica do público na capital uruguaia – em Buenos Aires sim, um pouco mais, mas nada que anime a mudança de postura dos jogadores.
Os atletas de ambos os lados seguem inundando suas redes sociais com conteúdos que vão desde o desaparecimento de um preso político na Argentina até as cuias para tomar o mate – a versão uruguaia e argentina do chimarrão que é consumido com tanto entusiasmo no Rio Grande do Sul.
Uruguai (terceira) e Argentina (quinta na classificação) não demonstram nesta semana o espírito de batalha que sempre caracterizou o Clássico do Rio da Prata.
Por mais que os discursos proponham ofensividade e a Argentina pretenda escalar um time que ataque bastante, a opinião geral – como mostramos ontem – insiste que um empate seria muito conveniente aos dois países, que em caso de derrota se arriscam também a lidar com a acidez e com o revanchismo da imprensa local.
Empate em campo, empate fora – 0x0 com os jornalistas.
Walter Abrahão e seu ''oxo'' estão bem vivos por aqui.