Empate “armado” de 2001 ronda o Uruguai x Argentina desta quinta
Tales Torraga
''Se não armam este empate de 2001 com a Argentina, o Uruguai completaria a terceira Copa do Mundo seguida sem disputar. Sim, foi um acerto. Aqui no Uruguai todo mundo sabe bem. A Argentina já estava classificada…''
O autor da declaração bombástica foi ninguém menos que o ex-técnico uruguaio Juan Ramón Carrasco em entrevista à Rádio Aspen, de Buenos Aires. Em 14 de novembro de 2001, Uruguai e Argentina se enfrentaram pelas Eliminatórias para a Copa de 2002, e o 1×1 (vídeo aqui) teve seus dois gols no primeiro tempo, aos 18 com Darío Silva (para o Uruguai) em aos 44 com Piojo López (para a Argentina). O árbitro foi o alemão Markus Merk. Victor Púa era o técnico do Uruguai; o treinador da Argentina naquela ocasião no Estádio Centenário era Marcelo ''El Loco'' Bielsa.
Era a última rodada daquelas Eliminatórias. O Uruguai terminou em quinto e precisou superar a Austrália na repescagem para jogar o Mundial da Ásia.
A reminiscência deste empate ''acertado'', segundo as palavras do técnico uruguaio que assumiu a seleção em 2003, ressurgiu em Montevidéu nesta semana do ''clássico das patadas'' entre Uruguai e Argentina, que se enfrentam nesta quinta (31) às 20h (de Brasília) no Estádio Centenário.
Qualquer conversa sobre a partida na tranquila capital uruguaia dá a entender que tal desfecho vai voltar a acontecer – afinal, a igualdade convém às duas seleções, e o tempo em que ambas eram inimigas ferrenhas está cada vez mais para trás.
Hoje, Uruguai e Argentina são rivais esparsos apenas nas Eliminatórias e na Copa América. Até o jornal ''El País'', o maior do Uruguai, se rendeu à evidência favorável ao empate e ao antecedente de 16 anos atrás em uma longa matéria publicada neste domingo sobre o histórico do clássico.
É claro que a tese favorável ao empate é ouvida apenas fora dos muros do Complejo Celeste, onde treina o Uruguai, e do CT de Ezeiza, onde a Argentina se prepara em Buenos Aires.
O discurso oficial de ambas as seleções mantém em fogo alto o orgulho que cada um dos países tem ao se comparar com o vizinho praticamente gêmeo e tão próximo em território e cultura. ''Uruguai e Argentina são irmãos de diferentes placentas'', é a inteligente definição que se ouve nos dois países.
O Uruguai está sem Suárez e passa a ser um time fácil de ser batido, como prova ao chegar a esta semana vindo de três derrotas – para Peru, Chile e Brasil. A Celeste não somou nenhum ponto neste 2017. É o pior cenário possível para um clássico.
A Argentina, vale lembrar, perdeu a última partida para a Bolívia em La Paz, um 2×0 que resultou na queda de Patón Bauza. Uma semana antes, havia batido o Chile em Núñez – 1×0 – em um dos maiores sufocos de todos os tempos, jogo que vai ser lembrado também para sempre pelos erros da arbitragem em favor da Argentina.
É mais que óbvio que o ponto a favor seria, para ambas as seleções, muito mais interessante, desde já, que arriscar uma vitória, perder e comprometer a classificação à Copa do Mundo.
O Uruguai está em terceiro lugar nas Eliminatórias, com 23 pontos, com a Argentina na quinta posição, com 22. A classificação está insana: Colômbia (24 pontos), Uruguai (23), Chile (23), Argentina (22) e Equador (20) formam uma escada entre o céu e o inferno com três vagas em disputa e um acesso à repescagem. É fato: qualquer migalha – ou melhor, qualquer empate – vai valer muito no majestoso Centenário do Parque Battle às 20h de quinta.