Patadas y Gambetas

Pesquisa revela que 71% dos casais brigam por futebol na Argentina

Tales Torraga

A paixão dos argentinos pelo futebol é famosa em todo o mundo. O que não se sabia até hoje era o impacto deste fanatismo nos casais e nas relações sociais desenvolvidas aqui pelos lados portenhos.

A pedido do ''Clarín'', maior jornal da Argentina, o instituto de pesquisa D'Alessio IROL foi às ruas de todas as províncias do país para ouvir a população e analisar o tema. E os resultados surpreenderam.

Um discórdia crescente na Argentina – Clarín/Reprodução

De acordo com os números revelados pelo instituto nesta segunda (21), 71% dos homens argentinos se admitiram ''fanáticos'' por futebol – e este volume de 71% se aplicou também entre os que reconheceram que esta paixão gerou brigas no namoro ou no casamento em virtude da preferência excessiva pelo clube ou por desavenças com a companheira torcedora de outro time.

Sete entre cada dez afirmam que já desmarcaram compromissos sociais por conta de um jogo, enquanto 50% revelaram que já cancelaram um jantar romântico para ver uma partida. Outros 20% dos argentinos vão além: reconhecem que ficam de mau humor por vários dias quando o time perde.

A pesquisa é decorrente do grande sucesso da comédia ''El fútbol o yo'', ''O futebol ou eu'', o filme do momento em Buenos Aires e Montevidéu – o trailer está aqui.

O enredo é a relação intrincada que o futebol impõe a alguns casais – e a comédia, claro, causa riso e também reflexão sobre as razões que transformam algo que deveria ser um lazer em uma fonte de vícios, rejeições e frustrações tão absurdas.

Os psicólogos e antropólogos viraram habitués das TVs e jornais de Buenos Aires para analisar o tema.

''Discutir o peso do futebol na relação é algo bastante frequente, e esse ruído de discussão depende de como está o vínculo de maneira geral'', analisou o psicanalista Eduardo Drucaroff, especializado em casais.

''A sensação de falta de atenção que alguém pode sentir pelo marido ou pela mulher vendo futebol tem a ver com a exclusão que esta pessoa sentiu na infância. Se foi uma exclusão muito grande, então esta sensação vai ser sofrida e permanente.''

''É importante não julgar com os valores próprios, e sim se colocar no lugar do outro. Se há diferença no quanto uma pessoa gosta de futebol, é importante que haja espaço para desenvolver também algo que apenas a outra goste.''

Um dado específico deixa mulheres e homens em calçadas bastante separadas no que diz respeito ao futebol na Argentina. Elas reconhecem que cancelam os compromissos sociais em virtude dos jogos em 34% – a mesma taxa daquelas que deixam de estudar para acompanhar uma partida.

Mas só 11% das mulheres não saem com o namorado ou marido para ver um jogo. Os índices masculinos para tais perguntas foram de 71%, 71% e 50%.

“Há 40 ou 50 anos, o trabalho e o Estado eram os grandes construtores da identidade. Mas isso mudou e a identidade se faz também pelo futebol, que é muito forte na Argentina'', descreve o antropólogo José Garriga Zucal, autor de vários livros que analisam o vínculo entre a violência e o futebol.

“O passar do tempo faz mudar a intensidade com a qual alguém segue um time, mas geralmente a pessoa torce para um único clube a vida toda. E isso conduz a uma identidade muito mais forte e mais estável que diversas outras opções culturais.''