Até bolada na cara complicou Passarella no Corinthians
Tales Torraga
O Flamengo fez barulho com Reinaldo Rueda nesta semana, mas quando a MSI anunciou em março de 2005 que El Kaiser Daniel Alberto Passarella seria o técnico do Corinthians, a aprovação foi total.
Zagueiro e capitão campeão do mundo com a Argentina em 1978, Passarella ouviu a sirene do Parque São Jorge com currículo impressionante como técnico – três títulos argentinos com o River e passagens pelas seleções de Argentina e Uruguai.
O que ninguém esperava era o Kaiser (e seu gênio impossível) transformar o Corinthians numa balbúrdia difícil de acreditar – até mesmo hoje, 12 anos depois.
Autoritário ao extremo e sem a menor vontade de ser amigável, Passarella exigia sempre a última palavra e a autoafirmação de que era o comandante da tropa.
Tal falta de tato rendeu as famosas brigas com Roger e Fábio Costa, sacados do time titular com absoluto desprezo.
Um outro detalhe pouco conhecido diz bastante sobre o ambiente muy complicado daquele Corinthians.
Passarella terminava os treinos sempre fumando um cigarrinho e desafiando seus jogadores para uma partida de fute-tênis. Quando a prática era aberta à imprensa, ele se controlava. Sozinho com o grupo, virava uma fera (ou uma criança?).
Sem jamais aceitar perder, o Kaiser urrava à medida em que ficava atrás no placar. Os compatriotas Tevez e Sebá Domínguez eram dois de seus adversários mais frequentes e logo perceberam que ''brincadeira'' era palavra que não existia.
A jogada preferida de Passarella era mandar a bola curta, perto da rede: e aproveitar a devolução improvisada para enfiar o pé – e dar uma bomba na cara de quem estava no outro lado da rede.
É claro que a ignorância numa simples ''brincadeira'' apodreceu de vez a relação com os jogadores – tanto os que se arriscavam às boladas na cara quanto os demais, obrigados a se sujeitar a alguém tão tresloucado.
A maluquice de Passarella era tamanha que até treinando a seleção argentina ele machucou um jogador com esta ''brincadeira''. Daniel arrancou sangue do nariz de Hernán Crespo em plena preparação para a Copa do Mundo de 1998 – esta história está no livro ''Él es Passarella'', do jornalista argentino Nicolás Distasio, obra de 528 páginas que faz rir mais que comédia e refletir mais que filosofia.
Passarella dirigiu o Corinthians só por dois meses. Foram 15 jogos, sete vitórias, quatro empates e quatro derrotas – a última delas doeu mesmo como uma bolada na cara: um 5×1 para o São Paulo no Pacaembu, pelo Brasileirão.
O substituto de Passarella foi Márcio Bittencourt. O Corinthians da MSI ainda teria o técnico Antônio Lopes no título daquele confuso Campeonato Brasileiro – o das partidas repetidas e do pênalti não marcado em Tinga, do Internacional, que sofreu entrada violenta de Fábio Costa dentro da área e ainda foi expulso.