Os bastidores da escandalosa saída de Centurión do Boca
Tales Torraga
Atual campeão argentino, o Boca Juniors está em pré-temporada no Paraguai. O elenco completo e o corpo técnico estavam à espera de Ricardo Centurión quando explodiu, no domingo, o enésimo escândalo do jogador em uma balada.
Desta vez, Ricky – como Centurión é chamado em Buenos Aires – foi indiciado por agredir e ameaçar de morte um jovem depois de uma briga na qual ele, Centurión, precisou sair escoltado e encapuzado para não ser linchado na porta da casa noturna Capítulo I, em Lanús, na província de Buenos Aires.
A madrugada foi re caliente: amigos e amigas do jogador distribuíram golpes, cusparadas e otras cositas más aos presentes. Óbvio que teria consequências.
A primeira delas foi causar a enorme fúria de Guillermo Barros Schelotto, técnico do Boca e responsável pela volta do jogador às pressas da Itália para a Argentina. Centurión já havia feito exames médicos e estava para se juntar ao elenco do Genoa, quando voou muy apurado a Buenos Aires para assinar, na segunda-feira, o contrato com o Boca – e na sequência partir para o convívio paraguaio com os demais jogadores e com os gêmeos Schelotto, os técnicos do clube xeneize.
Guillermo perdeu a paciência. Em uma reunião às pressas com Daniel Angelici, presidente do Boca, na segunda-feira, disse que deixaria o assunto com os dirigentes e que não se comprometeria mais com o comportamento de Centurión. Em resumo: Centurión conseguiu fazer com que Schelotto, um dos personagens mais caprichosos, manhosos e marrentos da Argentina, voltasse atrás em uma decisão sua. Isso dá a real dimensão do que houve nas negociações seguintes.
Alejandro Mazzoni, representante de Centurión na Argentina, foi chamado por Angelici, e o encontro entre ambos nesta segunda durou apenas dez minutos. De acordo com o empresário, o presidente afirmou que precisaria conversar com Schelotto – o famoso ''jogo de empurra''. Nesta terça de manhã, Angelici, segundo a versão de Mazzoni, entrou em contato e reforçou que da parte do Boca as negociações pelo jogador estavam encerradas. Ele que voltasse ao Genoa.
Peça-chave para entender a história, Schelotto havia firmado um pacto com Centurión durante o período na Itália. Ambos trocaram mensagens assegurando que o convívio seria pacífico depois da incorporação do jogador, e que ele seria ''atleta do Boca 24 horas do dia''. Guillermo só não contava que Centurión caísse na farra antes de assinar o contrato e se juntar ao elenco. Centurión, pobre, não entendeu: a medida disciplinar deveria ser seguida assim que ele tocasse o solo argentino – e não somente quando começasse a trabalhar com o grupo.
Schelotto cortou contato com Centurión imediatamente depois da balada – daí a raivosa carta publicada pelo jogador nesta terça. Ricky seguiu o manjado discurso de falar de todos os outros – até a situação social argentina foi abordada em sua mensagem -, mas sem reconhecer que sua conduta é, de fato, assustadora.
(''Soltaram minha mão'', escreveu Centurión, admitindo que ainda é uma criança que precisa se segurar em alguém para atravessar esta enlouquecida avenida chamada vida argentina. Tem 24 anos, recebe milhões? Pois segue sendo uma criança que não sabe o que faz. Un nene, un pibito, un chiquilín que não tem ideia do sofrimento que impõe a si e aos outros com tamanha inconsequência.)
Brigar em boates, ser acusado de dirigir embriagado, bater o carro em alta velocidade na madrugada, ser indiciado por agredir e desfigurar a ex-namorada, posar com armas, vazar nudes, ser contido pelos colegas para não brigar na concentração, dizer que pararia de jogar se não seguisse no Boca.
Centurión fez de tudo – de ruim – em sua passagem pelo Boca. Mesmo com o clube sendo famoso pelas permissões às estrelas, a ponto de determinado momento da história ser chamado de ''Bocabaret'', os dirigentes perceberam que não valia a pena comprar um problema. Muy talentoso e útil em campo, é verdade, mas uma pessoa individualista e indomável em ainda maiores proporções.
O blog apurou que Centurión, apesar de tudo, segue com portas abertas no Genoa.
O clube tem interesse em contratá-lo por 6 milhões de dólares (R$ 19 milhões) e confiar que o jogador, longe de tanta loucura, vai se concentrar em jogar bola e render – esportivamente e economicamente – o que a equipe espera. Ninguém no entorno do jogador considera uma volta ao São Paulo, embora todos estejam chocados com o desfecho da história do atleta com o Boca e não descartem nada.