Opinião: E quem disse que a Libertadores dos anos 60 e 70 não existe mais?
Tales Torraga
E deu River Plate em um dos jogos mais loucos e violentos da história recente da Libertadores. O Defensores del Chaco viu um faroeste digno do nome. O Guaraní e o time portenho repartiram patadas do minuto 0 ao 90 – e com todos os lamentáveis ingredientes que dão à Libertadores essas cores tão intensas quanto amadoras.
Intensa porque terminou com oito cartões amarelos e com o River jogando com uma estratégia muy clara: Vai me bater? Eu te bato mais. Uma rinha de galo com os de Núñez reativando as armas e o ambiente que fizeram a Argentina saltar na tabla de campeões com tantos títulos e tanto escândalo nos anos 60 e 70.
A vitória do River por 2×0 em Assunção começou com diversas agressões verbais entre os presidentes – fruto da animosidade mútua pelo doping que abalou o clube de Buenos Aires e fez o Guaraní falar abertamente até em sua exclusão da Copa.
A Libertadores ''anos 60 e 70'' seguiu com Chilavert (¡El Gordo Chila, por favor!) trocando tapas com a torcida do River em pleno voo Buenos Aires-Assunção.
A grande suspeita da dopagem argentina voltou a aparecer com a divulgação, no meio do jogo, de que todo o River, todos os 18 jogadores, seriam chamados para um antidoping surpresa depois da partida, o que causou outro escândalo entre os dirigentes, pois a volta à Argentina certamente seria adiada com esta novidade.
A Libertadores varzeana atingiu o ápice às escuras, com o apagar das luzes do Defensores del Chaco segundos depois do 1×0 do River, gol do estreante Scocco.
A bola entrou e a luz apagou. Coincidência fatal. Una locura.
Neste apagão, segundo a Rádio Rivadavia, de Buenos Aires, os torcedores do Guaraní partiram para cima do presidente e dos dirigentes do River, outra maluquice sem fim, com o plus infernal da polícia paraguaia distribuindo agressões entre os 10.000 fanáticos do Millonario que estavam em Assunção.
O Brasil chora e ameaça sair da Libertadores. A Argentina nesta situação saca tudo o que tem de dentro. Tanto a violência intrínseca quanto a força interior (alguns chamam de arrogância) para controlar a partida e ganhá-la, como ganhou por 2×0 – Larrondo, outro ex-Rosário, fez o segundo. Ele, do Central; Scocco, do Newell's.
A Libertadores de fato é tão bruta e antiquada quanto horizontal. Ninguém escapa. Quem entra em campo assume estar preparado para o que de há de mais sinistro.
(''Sinistra'' é uma boa definição para a arbitragem do uruguaio Andrés Cunha, o mesmo que validou o gol de mão do Peru contra o Brasil na Copa América. Que este Guaraní x River tenha terminado com 22 homens em campo é uma aberração só possível mesmo em uma Libertadores tão sangrenta quanto arqueológica.)
O passaporte é mero detalhe. A Argentina, rainha desta Copa, maior campeã disparada, comeu o pão do diabo em Assunção (cidade-sede da Conmebol!).
E venceu como vence em 90% das situações assim.
Quer ser esperto e áspero e ganhar no grito e na guapeza de um time argentino?
Melhor nascer de novo, pibe.
Não precisa falar de mimimi, nem de Nutella, nem de ''ódio ao futebol moderno''.
Só um pouco de coerência em saber o que é lícito e o que é sujo en la cancha.