O que a Argentina ensina ao Brasil com o jogo de despedida de Cavenaghi
Tales Torraga
O Monumental de Núñez vai explodir às 16h (de Brasília) deste sábado na despedida de Fernando Cavenaghi do River Plate. Maior ídolo recente do clube, El Cavegol, de 33 anos, vai, sem exagero, parar a Argentina sempre chegada a emoções, dramas e festas que celebrem histórias de amor – do time que for.
Para ter ideia: o jogo vai começar só às 19h30 e será transmitido pela TV aberta em horário nobre, pela tradicional emissora Telefe.
Haverá, antes da partida propriamente dita, uma extensa programação com shows, vídeos e surpresas que certamente vão entrar para a história do futebol argentino.
As despedidas argentinas são sempre um prato cheio para as lágrimas e, claro, para os bons negócios. Basta lembrar do adeus a Maradona, Palermo e Ariel Ortega, para ficarmos apenas e tão somente só em três nomes.
Este sábado é uma data bastante propícia para o Brasil aprender com a Argentina como pensar e executar uma despedida emocionante e lucrativa.
Já houve, sim, um avanço com as partidas realizadas com Marcos, Rogério Ceni e Marcelinho Carioca – mas parece haver não um país, mas sim um mundo de distância na maneira como cada país cultua seu ídolo e se despede dele na cancha.
Veja seis pontos que explicam bem esta diferença.
DATA PERFEITA. Sábado à tarde, no intervalo entre as temporadas. A festa de Cavenaghi não será num dia de semana ou numa data que não tenha a ver com o futebol. Será na tarde-noite de sábado para a festa invadir o fim de semana e facilitar para fãs, jogadores e demais profissionais. A lista de convidados é recheada exatamente por isso. Ortega, Aimar, Francescoli, Chori Dominguez, Astrada, Hernán Díaz, Sorín, Demichelis, Placente, Ponzio, Ledesma, Saviola, Mercado, Vangioni, Lanzini, Maidana, Alario, Rojas e Batalla são alguns dos que estarão.
RENDA RECORDE. A multidão esgotou os ingressos em apenas três dias, assim que as entradas começaram a ser vendidas em maio. E elas eram bem salgadas: 350 pesos (R$ 70), mais caras que a de um clássico normal.
O Monumental tem uma capacidade oficial de 61.688 pessoas. Embora não admita oficialmente, é praxe que o clube comercialize uma quantidade superior a esta por ser um evento festivo e no qual as pessoas se aglomeram com amizade. E se há uma coisa que o argentino aceita com amizade é se aglomerar. Basta ver as imagens das despedidas anteriores de Alonso, Francescoli e Ortega no Monumental – não é absurdo pensar que havia até 80.000 pessoas ali.
NEGÓCIOS PARALELOS. Quem for a Núñez poderá, por exemplo, fazer tatuagens com o rosto de Cavenaghi. Quando Ortega se despediu, houve um livro de fotos que foi um grande sucesso de vendas. Cavenaghi hoje tem uma grife, a FC9 – FC de Fernando Cavenaghi. Os produtos, claro, poderão ser comprados nesta tarde. Há também sempre a possibilidade de o clube incorporar oficialmente algum jogador de passado recente pela equipe – foi mais ou menos o que fez o São Paulo com a volta de Lugano, incentivada também pela despedida de Rogério Ceni.
FESTA PERSONALIZADA. Cada ídolo se despede de uma forma – e isso deixa o evento sempre especial. A Palermo deram as traves da Bombonera. A Ortega fizeram, por exemplo, um show especial do roqueiro Andrés Calamaro, seu amigo. A Maradona foi permitida a volta olímpica na Bombonera com suas duas filhas.
EXPRESSÃO CULTURAL. A despedida de Cavenaghi já tem música própria, e ela é linda, além de um filme satirizando a ocasião, com todo o know-how argentino em cinema, e bandeiras, cartazes e outras coisas que fazem o torcedor interagir com o ídolo e com o clube (e com a hashtag #CaveNoSeVa).
MENTALIDADE DE ÍDOLO. Se no Brasil há a queixa de que os clubes não formam mais ídolos, que o êxodo recente impede a ligação jogador-clube-torcedor, na Argentina há exatamente o contrário. Os jogadores deixam o clube, mas seguem identificados a eles de tal forma que sempre há uma chance para retornar ao time e à Argentina. Cavenaghi e seus três ciclos no River são um excelente exemplo.
Na Argentina vigora muito forte a mentalidade do jogador crescer e colocar para si a meta de ''fazer a partida de despedida no clube X, do qual é torcedor''. Algo para poucos. E Cavenaghi é merecidamente um deles.
Crescer sonhando em jogar no Barça, no Real, no Manchester?
¡Somos Argentina, muchachos, queremos River, Boca, Rojo, Racing, Central, Nils e Ciclón, olvídate!