Opinião: Argentina volta a ter um técnico de verdade depois de 11 anos
Tales Torraga
Acabar com a banca do Brasil foi o de menos.
O 1×0 para a Argentina na verdade deveria ser 1×1 – pela bola nas traves ou porque a seleção de ''Tité'', já consolidada, com cara definida, foi melhor durante parte do primeiro tempo e todo o segundo.
Mas o que enche esta Argentina de esperança é saber que pela primeira vez em 11 anos realmente existe um técnico de elite segurando sua prancheta e gritando o gol como gritamos nosotros, así, re locos.
El Pelado Sampa tem um claro plano original de jogo, e ele pôde ser visto na primeira metade desta sexta em Melbourne. Na segunda parte vieram as variantes, e elas serão muitas, sempre de acordo com o adversário.
Sampaoli não está preso a nenhum sistema.
Sua careca brilhante pensa em todas as direções. É o Miguel Najdorf dos nossos tempos. Tem tudo a oferecer a uma seleção argentina que não contava com uma capacidade assim desde El Maestro José Pékerman, ali entre 2004 e 2006.
Que nos desculpem Coco Basile, Diegote Maradona, Checho Batista, Pachorra Sabella, Tata Martino e Patón Bauza.
Especialmente Sabella. Vice no Mundial de 2014, é claro que não esquecemos. Mas sua carreira de técnico foi curta demais, ao contrário do assistente brilhante e duradouro que foi. Nenhum dos seis esteve no nível que Sampaoli propõe desde já.
(''¡Sampa de mi esperanza, por favor!'', exclama hoje a gelada Buenos Aires.)
Acabar com o 100% do Brasil de ''Tité'' (incrível como um país culto como a Argentina consegue escrever errado nome tão simples, seria trauma de Pelé?) foi menos importante que perceber que 1) pela convocação, e 2) pelas mudanças, que Sampaoli não será morno. Ele será barulhento como o rock que estamos citando há dias. Está em curso uma grande mudança de geração. Só não vê quem não quer.
Mesmo os viejos que seguem, como Di María e Messi, já atuaram diferente.
Di María se colocou bem aberto na esquerda, encarando e tentando cruzamentos venenosos. Messi está menos sozinho, buscando mais tabelas, as poucas que acertou hoje com Dybala já são um bom indício, embora Lio no segundo tempo tenha pensado mais em sua lista de casamento do que no amistoso em si.
O gol foi de Mercado, justamente o primeiro contratado por Sampaoli no Sevilla. Sinal claro: esta Argentina vai contar com a sabedoria – não com a casualidade.
Já não era tempo. Chega de dar vantagem.