Por que a Argentina só fala da “chuva de bonecas” da torcida do Rosario?
Tales Torraga
Rosario Central e Racing jogaram entre si no Gigante de Arroyito, em Rosário, na noite deste domingo, pela 26ª rodada do Campeonato Argentino. Aos 24 minutos do primeiro tempo, a torcida do Central arremessou dezenas de bonecas no gramado, obrigando o árbitro Ariel Penel a parar a partida para recolher os brinquedos.
Estava 1×0 Central – e o jogo terminou 4×1 para os próprios canallas.
As bonecas atiradas estavam com o ''uniforme'' do Newell's, que perdeu há oito dias o clássico de Rosário para o Central por 3×1 em pleno Estádio Marcelo Bielsa.
Qualquer conversa sobre futebol nesta segunda em Buenos Aires – para não dizer de Rosário – gira em torno da ''chuva de bonecas'' que pode ser vista aqui.
A questão passou a ser: o Central merece ser punido por sua torcida atirar objetos em campo, parar a partida e não respeitar as normas de comportamento em vigor?
Muitos defendem que o clube seja obrigado a jogar com portões fechados e pagar uma gorda multa para que tal protagonismo não volte a acontecer. Jogadores jogam, torcedores torcem. É este o raciocínio defendido por muitos comentaristas nas intermináveis mesas-redondas que são levadas ao ar na noite de domingo e agora no horário de almoço das segundas-feiras – igualzinho ao Brasil.
Há até os que pretendem que o Rosario desça de categoria para que haja uma real conscientização da torcida que está habituada a fazer coisas do tipo na Argentina. O primeiro Boca x River na Bombonera depois da passagem do River pela Série B também foi paralisado pela torcida do Boca e por suas alusões, aqui.
Outro ponto apontado pelo comentaristas é que a mensagem de arremessar bebês é muito grave, mediante o altíssimo índice argentino de violência doméstica.
Os que contra-argumentam afirmam que a Argentina não é a Suíça, e que as torcidas têm liberdade para se manifestar, desde que sem violência. A entrada em campo do Central ontem já havia sido histórica – e muito perigosa, convenhamos, como pode ser visto neste vídeo. Mais do que barrar uma ou outra manifestação, o que importa de verdade para a nova AFA neste momento é acabar com a corrupção.
A conversa virou também um debate sobre um eventual ciúme dos portenhos (da capital Buenos Aires) do jeito apaixonado de ser dos torcedores de Rosário.
Mero drama ou linguagem bestial de fato?
O Central merece uma advertência ou uma punição severa?
O blog vai de A nas duas, embora a louca rivalidade de Rosário precise mesmo de um filtro, pois ela passa dos limites antes, durante e depois de um clássico.
''Sabia que em Rosário se vivia assim, mas é pior do que me contaram. Aqui, estamos como na África do Sul com os brancos e com os negros. Não se pode cruzar uma quadra ou um bairro que logo sai briga'', declarou semana passada o técnico do Central, o uruguaio Paolo Montero – e com toda a razão.