Patadas y Gambetas

Como Maradona está por trás da suspensão de Messi

Tales Torraga

Diego Armando Maradona hoje é embaixador da Fifa, mas não só – seu papel real é quase o de um braço-direito do presidente Gianni Infantino na América do Sul.

Maradona há anos vem brigando muito feio com o apresentador de TV Marcelo Tinelli, que foi recentemente designado como diretor da seleção argentina. ''Se Tinelli continua, vou embora da Fifa'', ameaçou El Diez na semana passada, um dia antes de a Argentina vencer o Chile por 1×0 em Buenos Aires.

Como o mundo todo sabe, a Fifa suspendeu Messi de quatro partidas, e a AFA reconhece que os dois amistosos de data Fifa em junho vão diminuir esta pena. Lio estará apto para os últimos três jogos das Eliminatórias, ante Venezuela, Peru (ambas em casa) e Equador (fora), em 5 de setembro e 5 e 10 de outubro.

E por que impor a Messi um rigor máximo pelo xingamento sequer relatado na ocasião? Por que lhe dar uma pena mais pesada, por exemplo, que a de um jogador que pega uma patada violenta e machuca o adversário?

Porque a Fifa fez questão de passar uma clara mensagem de repúdio com as idas e vindas da AFA nesses últimos nove meses de Comissão Normalizadora. E mais que isso: ela quer marcar território desde o início ao que será o trabalho da dupla Marcelo Tinelli-Chiqui Tapia, diretor e presidente da AFA, que não terão nem de longe o respaldo que os cartolas mundiais brindavam a Julio Grondona, o da profética frase: ''Vocês vão sentir minha falta quando eu não estiver mais aqui''.

E a falta é muito clara desde já. O atrito Maradona-Tinelli é, por unanimidade, a versão mais explorada pela imprensa argentina para o pesado gancho a Messi. El Diez se valeu de seu peso para detonar o trabalho do desafeto.

E Messi? Errou ao se expor à linha de tiro.

José Luis Chilavert, como sempre, não teve meias palavras: ''Messi pagou a vingança da Fifa contra a AFA''.

O repúdio argentino com Maradona é tão forte que ele fez o que costuma fazer em momentos assim. Mandou um áudio ao apresentador de TV e rádio Alejandro Fantino espumando de raiva e negando qualquer interferência no processo.

E como a torcida argentina recebeu esta negativa de Maradona em Buenos Aires? Como a defesa de Patón Bauza em La Paz. Com segurança zero. Cero. Uma partida bisonha que merecia terminar com goleada da Bolívia, que ganhou apenas e tão somente por 2×0. Um papelão histórico. Foi a versão 2017 do que havia sido a Argentina em 1994 contra a Bulgária depois do doping dele, Diego Maradona.


O pessimismo na capital é tamanho que muitos já repetem, sem parar, que sem a presença de Messi a Argentina vai ficar fora da Copa do Mundo e que este será o fim do gênio do Barcelona na seleção. A Copa de 2018, a Copa da glória e do seu adeus, passaria a ser a Copa do desastre e da vergonha de sequer disputá-la.

Que drama, que confusão, que perturbados estão os portenhos com o futebol, che.

Menos mal que as próximas duas partidas das Eliminatórias – Uruguai fora e Venezuela em casa – vão ser só em agosto. Pela temperatura do momento, vai ser quase um milagre (ou um pesadelo?) que Bauza chegue até lá.

Bauza também está brigado com Maradona, que o chamou de ''traidor'' por se reunir com Mauro Icardi. E Patón também levantou suspeitas depois da derrota de La Paz: ''Alguém fez algo muito específico para a punição de Messi ser decidida tão rápido e sem me dar tempo de trabalhar o time sem ele''.

El tiempo no para. A loucura argentina tampouco.