Escutas revelam nova ajuda da arbitragem ao Boca na Libertadores
Tales Torraga
A sensação é de filme repetido, embora o tema não deixe de causar revolta. Depois das escutas escancarando a ajuda do árbitro Carlos Amarilla ao Boca Juniors contra o Corinthians na Libertadores de 2013, desta vez um novo áudio foi vazado. E ele revelou uma comprometedora conversa entre o presidente do Boca, Daniel Angelici, e Luis Segura, então presidente da AFA, em janeiro de 2015.
A frase de Segura é estarrecedora: ''Sou o torcedor número um do Boca. Vou me ocupar disso'', cravou o presidente da AFA na escuta que o TyC Sports, canal de TV especializado em esportes, revelou em Buenos Aires na noite de ontem.
Boca e Vélez Sarsfield disputaram um mata-mata em jogo único para decidir quem seria o último representante argentino naquela Libertadores. E o pedido de Angelici é perfurante: ''Fale diretamente com este menino, o Delfino, para que trate de errar o menos possível na quarta. Diga a ele que Boca está jogando muitas coisas''.
Segura responde: ''Amanhã tenho uma reunião com Scime [diretor de formação dos árbitros] antes do sorteio. Fique tranquilo que eu me ocupo''.
''Dá-lhe, obrigado'', responde Angelici. ''No jogo que você tem com o Vélez, o torcedor número um do Boca, não tenha dúvida, sou eu'', finaliza Segura. O novo escândalo é chamado na Argentina de ''Telefone do Horror''. Entendem que o papel de Angelici é típico no futebol, e que absurda mesmo é a postura parcial da AFA.
Há outra conversa muito comprometedora, na qual o presidente do Boca negocia com o Tribunal Disciplinar para que dois jogadores suspensos possam estar na partida – e ambos estiveram. Eram o lateral-direito Marín e o volante Erbes.
O Boca venceu o Vélez por 1×0, gol de Colazo, e Delfino expulsou dois jogadores do Vélez, Grillo e Somoza. Então no Boca e hoje no São Paulo, Andrés Chávez também levou cartão vermelho. Diferentemente do ocorrido com Amarilla na nefasta noite no Pacaembu, a arbitragem não foi apontada à época como responsável pela vitória do Boca sobre o Vélez, embora a conversa dos dirigentes deixe mais do que clara a pré-disposição dos cartolas e o pesado bastidor daquele jogo.
(E as partidas que não têm áudios revelados?)
O duelo Boca-Vélez em si já foi um descalabro, com o Boca retorcendo o regulamento para forçar este desempate e passar direto à fase de grupos, jogando o Estudiantes para a pré-Libertadores daquele ano.
A equipe xeneize foi eliminada daquela Libertadores nas oitavas-de-final, na ''Noite do Gás'', quando sua torcida queimou os olhos dos jogadores do River Plate com gás pimenta na saída do vestiário para a volta do segundo tempo. O jogo estava 0x0, com a ida em Núñez terminando 1×0 para o Millonario – justamente o campeão daquela Libertadores, sua primeira conquista na competição depois de 19 anos.