Simeone, sobre soco que levou de Romário: “Está de parabéns, foi bem dado”
Tales Torraga
O ano era 1994. Barcelona e Sevilla se enfrentaram em janeiro no Camp Nou em um 0x0 aborrecido que jamais seria lembrado pelo futebol jogado pelos times, mas sim por uma agressão que surpreendeu catalães, brasileiros e argentinos.
Grande estrela do Barcelona, Romário, então com 27 anos, estava entre os reservas. Ele havia feito três dos cinco gols da histórica goleada contra o Real Madrid uma semana antes, mas viajou ao Rio para curtir o Carnaval e foi posto no banco pelo técnico Johan Cruyff. No final do segundo tempo, entrou em campo. E instantes depois deu um violento direto de esquerda na cara de Diego Simeone.
Romário foi expulso na hora, e o Barcelona ficou com homem a menos até o fim.
A pedido do blog, Simeone, de bom humor e um pouco surpreso, relembrou o lance em Buenos Aires no lançamento da sua autobiografia chamada 'Creer'.
''Foi um soco bem dado, não?'', brincou Simeone, com expressão envergonhada por lembrar do jogador agressivo e provocador que foi. Diego tinha 23 anos quando protagonizou este lance. ''Romário estava irritado por um problema no Barcelona, e isso o deixou um pouco vulnerável. Atuávamos no limite. Provocar e testar bons jogadores adversários fazia parte do futebol daqueles tempos'', disse.
No caso de Simeone, provocar, testar…e chutar Romário, o que ocorreu instantes antes de levar o soco que custou uma suspensão de quatro jogos ao brasileiro.
''A gente tanto faz que uma hora te acertam. Fiz minha parte e ele fez a dele, o Romário merece os parabéns'', continuou, rindo. ''Eu e o Romário formamos parte de uma geração que deixava as coisas que aconteciam em campo dentro de campo.''
''É assim que sempre deve ser. Ali no momento nenhum de nós dois falou nada, Cruyff sim falou alguma coisa [o técnico disse que também tinha vontade de socar Simeone], mas nem todo mundo reage da mesma maneira. Já faz tempo, não há nada a reprovar do comportamento de ninguém. Não é nada que eu incentive ou apoie hoje em dia, a mensagem que passo é bastante diferente, mas também não sou hipócrita de negar o que aconteceu. Foi quase uma travessura de crianças.''
Romário também tirou o dramatismo na época: ''Ele me provocou e chutou. Eu revidei e o juiz me expulsou justamente'', disse, também usando a ironia para criticar o comportamento de Simeone: ''A gente conhece bem os jogadores argentinos…''.
Há um termo comum em Buenos Aires que define com perfeição o que aconteceu: Simeone ''atirou uma galinha'' em Romário. É esta a gíria de quando um jogador cava a expulsão do outro com artimanhas ou, em português claro, certas sujeiras.
Isso, claro, Simeone não conta em seu livro. Que merece leitura mesmo assim.
* Com Martín Alonso, de Buenos Aires. Gracias y mates, Matí!