Opinião: Argentinos hoje no Brasil já estão na história e merecem respeito
Tales Torraga
Atlético-MG e Grêmio decidem hoje a Copa do Brasil em novo duelo argentino.
Pelo Atlético, o atacante Lucas Pratto e, vá lá, Juanito Cazares, de carreira toda desenvolvida no River Plate e no Banfield, embora nascido no Equador.
Pelo lado gremista, o muy competente defensor Kannemann, ex-San Lorenzo.
Eles estão longe de ser os únicos.
Os dois times que pararam na semifinal também contaram com ''argentinhos'', gíria criada pelos portenhos para definir os argentinos que invadiram o Brasil. Cabral, Romero e Ábila pelo Cruzeiro; Nahuelpán pelo Internacional.
Os seis primeiros colocados no Brasileirão também contam com argentinos em seus elencos – Palmeiras, Santos, Flamengo, Atlético-MG, Atlético-PR e Botafogo.
Dos dez melhores na tabela, apenas Corinthians (sétimo) e Ponte Preta (décimo) não têm um ''argentinho'' para chamar de seu.
A invasão argentina no Brasil marca 2016 pelo volume e também pela qualidade.
Não há, hoje, os líderes de outros tempos como Tevez, Sorín ou El Cabezón D'Alessandro – ou os mais recentes Conca e Montillo.
Mas é preciso olhar o bosque (o conjunto), não só a árvore (os referentes).
A seleção argentina tem hoje técnico de recente passagem pelo Brasil, Patón Bauza. Ele poderia facilmente convocar mais (Carli e Ábila). Ainda assim, chamou para as Eliminatórias dois ''argentinhos'', Buffarini e Pratto – autor de gol.
Há menos de três meses, Calleri fazia o mesmo pela seleção olímpica.
Existe uma certa dicotomia na análise dos argentinos que jogam hoje no Brasil.
Do lado brasileiro há tendência a vê-los como 'medio pelo' – carreiristas razoáveis que só estão no país pela moeda argentina ser fraca como o futebol do Brasil.
Os argentinos, estridentes como quase sempre, cravam que estamos diante da melhor safra de jogadores do país a atuar no Brasil.
Preencho a coluna do meio.
Não dá para exigir dos jogadores de hoje desempenho melhor que o obtido: presença – às vezes protagonismo – em finais e times que lideram o Brasileiro.
Mas não dá para ignorar também que os anos 70 contaram com Cejas, Andrada, Ramos Delgado, Ortiz (o goleiro do Atlético-MG e o atacante do Grêmio), Doval, Perfumo, Sanfilipo, Artime e El Lobo Fischer. Muitos jogaram simultaneamente.
Esta sim foi a melhor camada argentina a jogar no Brasil.
''Os argentinos que hoje atuam no Brasil se caracterizam pela dose exata de qualidade, personalidade e oportunismo'', define Ariel Ruya, editor do jornal ''La Nación'' e autor da biografia do Patón Bauza.
É por aí. A safra atual está nos pôsteres dos campeões – logo, está na história.
História que, vale lembrar, é argentina desde o começo. Foi do santafesino Nestor Scotta, do Grêmio, o primeiro gol da história do Brasileirão, em 1971.
E esta história só aumenta pelos pés discretos e eficientes como os do Comandante Andrés Chávez, entrevistado de hoje, recém-chegado ao São Paulo e já artilheiro argentino no Brasileirão com sete gols, ao lado de Ábila.
Nesta edição do Brasileiro já saíram 40 gols argentinos – mais de um por rodada.
Não enxergar qualidade nisso é brigar com a realidade.