Patadas y Gambetas

Novo Messi é o bom e velho Maradona. E a agradecida Argentina se derrete

Tales Torraga

Ao pedir a voz, anunciar boicote à imprensa e defender o amigo Pocho Lavezzi, Lionel Messi deu passo crucial para reverter a rejeição que sofre na Argentina.

Em outra análise, começou a fazer o que Diego Maradona sempre fez como ninguém. Começou a manipular as paixões e os sentimentos dos argentinos.

''Assim te queremos, Messi'', vibrou, depois do 3×0 contra a Colômbia, o apresentador de TV Pollo Vignolo, voz muito ouvida do esporte na Argentina.

''Messi está rebelde e mais ativo. Barbudo, venenoso, um pouco mau. Así!''

O golaço de falta e a espetacular atuação contra a Colômbia contribuíram, sim.

Mas a mudança de rota da relação de Messi com a Argentina se caracteriza por:

1) Teatralizar as patadas levadas da Colômbia.

2) A altivez depois da partida.

3) A notícia divulgada ontem (18) no país.

Messi pagou o salário de seguranças e demais profissionais da Seleção que estavam sem receber havia seis meses, o que Maradona também fez.

Houve na Argentina também uma ligação instantânea: Lavezzi-Messi é a reedição da dupla entre Caniggia e Maradona.

Diego encarou a imprensa, a torcida, os técnicos e o mundo para cuidar do amigo durante os anos em que atuaram juntos na Argentina e no Boca Juniors.

Esta nova face de Messi é, por enquanto, exclusividade da Seleção.

''É curioso – e sintomático – que esse Messi mais ativo, com mais personalidade, é muito mais presente na Seleção'', conta o jornalista Thiago Arantes, que vive em Barcelona há três anos – já cobriu mais de cem jogos de Messi.

''No Barcelona, ele continua sendo o mesmo dos últimos anos: é o líder técnico, tem uma força imensa no vestiário, mas não se expõe. Desde 2013, foram apenas duas entrevistas coletivas, ele nunca fala com os jornalistas que cobrem o dia-a-dia do clube, e todas as entrevistas eram justamente para meios argentinos.''

''O que parece é que, na Argentina, Messi precisa ser mais do que o melhor jogador do mundo. Ele precisa marcar o seu território, ter opinião, fazer críticas.''

''Precisa mostrar para todos que ele é humano, com suas angústias e incômodos. Precisa mostrar para os torcedores de um país inteiro que o garoto que mora em Barcelona desde os 13 é argentino, como todos eles'', conclui Arantes.

Olhar semelhante tem o jornalista argentino Tomas Rudich, editor de esportes na Agência DPA e na Rádio Dotcom: ''Messi está se 'Maradonizando', com atitudes mais impulsivas, apelando para o sentimento do público. Afinal de contas, está com quase 30 anos também. Estamos vendo um novo Messi'', afirmou Tomas aos amigos Bruno Freitas e Fabio Aleixo daqui do UOL Esporte.

Na semana em que Neymar se aproximou dos números de Pelé, Messi enfim virou o Maradona que os argentinos sempre quiseram.

A história está aí, muchachos. Bem na nossa cara.