Carlos Reutemann: “Este não é o meu Interlagos”
Tales Torraga
Foi um argentino – El Lole Carlos Reutemann – o vencedor do primeiro GP do Brasil de F-1 da história, em 1972. Ele ganhou a prova também em 1977, 1978 e 1981.
Hoje com 74 anos, Carlos cumpre seu terceiro mandato como senador. Dedica-se aos interesses da província de Santa Fé, da qual foi governador por duas vezes.
Reutemann está nos Estados Unidos, onde foi operado semana passada para retirar pedras dos rins. Antes, declarou ao blog que não acompanha a F-1 de hoje e fez ponderadas críticas à ''mesmice'' do traçado atual de Interlagos. Confira:
INTERLAGOS. ''Era nossa pista preferida, e em um tempo onde corríamos em traçados espetaculares como Monza, Silverstone e Nürburgring. A pista de hoje não tem nada a ver com o que era. Hoje as corridas são feitas para contar com o maior número possível de carros que cheguem ao final, por questões econômicas. As corridas são iguais entre si. Antes você via uma competição muito diferente e em pistas diferentes, com interferências humanas muito diferentes das de hoje.''
VITÓRIA EM 1972. ''Lembro que fazia muito calor e que a torcida lotou Interlagos. São Paulo, Rio e Buenos Aires eram cidades que paravam para ver a F-1. Foi uma corrida de poucos carros em uma pista muito longa [8 quilômetros]. Eu estava em segundo, o Emerson quebrou e ganhei. Só soube que ele tinha quebrado depois de muito tempo. Não deve ter sido muito empolgante para quem estava vendo.''
RIVALIDADE BRASIL x ARGENTINA. ''Eu, Nelson [Piquet] e Emerson levávamos sim a sério esta coisa de vencer na casa do outro. Lembro de uma corrida especial de Emerson em Buenos Aires, em 1973, e ele depois brincou que as ultrapassagens que fez eram para mim. Dei mais sorte no Brasil que na Argentina [Reutemann nunca venceu em seu país]. Fui muito amigo também de Pace, um tipo incrível, veloz, fechado, mas muito carinhoso. Era um outro tipo de contato humano.''
F-1 ATUAL. ''Não paro para ver. Não que seja desinteressante. Eu é que tenho pouco tempo para acompanhar. A vida mudou, hoje faço outras coisas e acompanho as corridas pelo noticiário ou por vídeos que me mostram. Pilotar uma máquina de ponta é um mundo à parte. Deve continuar muito interessante para quem corre.''
ROSBERG x HAMILTON. ''São excelentes, ninguém está nesta condição se não for muito bom. São muito parecidos também no estilo. A F-1 de hoje não comporta muitas diferenças. Os carros são muito parecidos, as pistas são muito parecidas, então as chances de fazer diferente são pequenas. O mundo hoje está muito igual.''
PILOTOS BRASILEIROS. ''Sempre me dei bem com todos eles, principalmente com Nelson, que era muito brincalhão, muito engraçado. Até hoje ele me diz que eu perdi o campeonato de 1981, e não ele que ganhou, mas pouco importa. Na época, claro, você corre para ganhar, mas com o tempo passa a valorizar outras coisas.''
''Lido bem com a minha carreira. Fui feliz correndo, e o mais importante é que não sofri nenhum acidente grave. O Brasil não deve se preocupar em perder espaço na F-1, o esporte é feito de fases, só ver o que houve com Itália, França e outras nações que já foram grandes e hoje não tem vagas. Com a tradição que o Brasil tem, a chama para surgir novos talentos está sempre acesa, não há como ser diferente.''
ARGENTINOS NA F-1. ''Não vejo nenhuma ligação do país com a categoria, o que não é nenhum problema, tampouco. Está muito mais difícil e mais caro para os argentinos. Os esportes são assim, cíclicos, por isso é tão interessante.''
''Os argentinos amam corridas, sem precisar de piloto do país. A paixão aqui é enorme. A F-1 iria se divertir muito na Argentina, como no México e Brasil. Existe sempre porta aberta para a F-1 voltar para cá, mas não sei se é potável, os interesses do governo hoje correm longe do automobilismo, o que é normal.''