Patadas y Gambetas

“Pelé foi muito melhor que Maradona”, diz técnico campeão mundial em 78

Tales Torraga

Hoje (5) é um sábado especial para o argentino César Luis Menotti. Técnico campeão da Copa do Mundo de 1978, ele está completando exatos 78 anos.

Sua atualidade é a mais tranquila possível.


Caminha duas horas por dia, joga basquete com o neto, comenta futebol para jornais e agências e é personagem fácil de encontrar nas livrarias e cafés ao redor do Obelisco. É no microcentro de Buenos Aires que Menotti tem, há décadas, um apartamento-escritório para analisar a vida, a política, o boxe e, claro, o futebol.

(Notório fumante, largou o cigarro há três anos – pensem!)

Menotti faz jus à fama de filósofo e revolucionário. Sua linha de pensamento foi batizada na Argentina de 'menottismo'. Seus seguidores são os 'menottistas'.

O blog compartilhou um papo com o eternamente magro El Flaco Menotti. Trechos:

PELÉ x MARADONA. ''O Pelé foi muito melhor que qualquer outro, não só o Maradona. O Maradona era mais vistoso por ser canhoto, e os canhotos, como estão em menor número, dão a sensação de fazer coisas diferentes.''

''O Pelé era inacreditável, tinha movimentos que só ele conseguia. Parecia um puma, uma pantera. Dava cada salto! Parecia que jogava com um paraquedas.''

''Lembro dele na final da Libertadores de 1963 na Bombonera. Queriam quebrá-lo, e ele fazia de tudo. Driblava, chutava, bancava as patadas…Inigualável.''

[Atacante, jogou com Pelé no Santos. Já treinador, levou Maradona à Seleção]

''Jogar com o Pelé me marcou muito, me ensinou demais para ser treinador. Jogar é forma de dizer. Fiz só um jogo. Aquele time do Santos era muito bom, era capaz de ser campeão até se escalasse só os reservas [ganhou o Paulista de 1969].''

''Quem diz que Pelé só brilhou porque jogava com craques precisa lembrar: quanto mais príncipes, mais difícil ser rei. Pelé foi o maior numa época de Rivellino, Ademir da Guia, Tostão, Gérson, Jairzinho…Precisa dizer mais?''

''O Brasil de 1970 foi, de longe, o melhor time que vi.''

BRASIL. ''A derrota do Telê em 1982 e 1986 foi péssima. Ela abriu espaço a outras pessoas e outras ideias, então houve uma mudança bruta de mentalidade e de forma de jogar. Por isso o Brasil vinha jogando mal desde os anos 90.''

''O time do Dunga era a representação do 'sacrifício não se negocia'. Vocês, brasileiros, me digam: que sacrifício fazia o Romário?''

ARGENTINA. ''O futebol na Argentina está à beira da morte. Só uma revolução cultural pode salvá-lo. As pessoas que comandam os negócios não têm a cabeça na cultura, só no dinheiro. Só importa o negócio.''

''O futebol não são os milionários, não é Messi, Di María e Agüero.''

''O futebol é a expressão dos que se juntam na esquina, no bairro. A seleção argentina hoje é apenas uma a mais na tabela. Um time de futebol é como uma orquestra, um grupo musical. Precisa de ensaio. E como a seleção argentina treina? Faz dois treinos, joga, e se reúne três meses depois. Complicado demais.''


TITE. ''É muito claro que o Brasil agora joga sem as amarras que tinha com o Dunga. O Tite parece um técnico muito atualizado. O Corinthians dele que ganhou a Libertadores em 2012 era um bom time. Não era o Corinthians do Rivellino, não sobrava talento, mas era um time aplicado e combativo. Se sem talento ele armou um bom time, é de se esperar uma seleção com equipes ainda melhores.''

NEYMAR. ''Está mais sóbrio e mais produtivo. Tem um talento incrível e potencial para ser um desses nomes históricos que o Brasil carrega. Conviver com Messi, Suárez e todo o Barcelona está ajudando a amadurecê-lo. Ainda precisa se soltar mais, rende bem mesmo só pela faixa esquerda, mas já faz uns gols incríveis.''

BAUZA. ''Eu o conheci como jogador. Como técnico, conversamos bastante sobre os juvenis porque nós dois já trabalhamos com as bases. Não concordei com as críticas ao Barcelona por não cuidar de Messi. Ele já tem 30 anos. Messi não é criança, não precisa de campanha para cuidá-lo. A Seleção hoje é uma secretaria. Chamam, vêm, jogam, vão. A falta de treino não deixa ninguém trabalhar direito.''

(abaixo, Bauza e Menotti correm em treino da Seleção em 1982)

BRASIL x ARGENTINA. ''O Brasil joga em casa e está melhor na tabela, então tem mais chances. Com um empate, a Argentina ficaria feliz. O Brasil eu já não sei. A Argentina tem o Messi, mas há muito tempo não tem uma ideia clara de jogo.''

''É um peso para essa geração sustentar a história de Brasil e Argentina. Hoje, se a gente tirar as camisas dos times, talvez nem perceba que é Brasil x Argentina. É muito físico e muita luta em detrimento da tradição.''

Amanhã (domingo, 6), a segunda parte, com fortes revelações de Menotti sobre as Copas de 1978 e 1982 e seus confrontos contra o Brasil nesses Mundiais. Hasta!