Patadas y Gambetas

“Viramos amigos”, diz zagueiro argentino que levou mordida de Emerson Sheik

Tales Torraga

O lance que poderia desatar uma batalha campal, quem diria, deu origem a uma amizade entre o atacante Emerson Sheik e o zagueiro argentino Matías Caruzzo.

Final da Libertadores 2012, Corinthians x Boca, ambos viviam disputa desigual.

Ex-Boca: hoje no San Lorenzo, Caruzzo brinca com a mordida de Emerson Sheik

Sheik havia feito os dois gols do título corintiano. Ele e Caruzzo trocavam ofensas, ironias, patadas e cusparadas desde o minuto zero na Bombonera.

No Pacaembu, fim de jogo, 2×0 Corinthians fora o baile, Caruzzo lhe colocou a mão na boca – e Sheik revidou com uma violenta mordida.

Ficou por isso mesmo.

Nem Caruzzo nem qualquer outro jogador do Boca acertou as contas com Emerson. O blog ouviu Caruzzo sobre aquele 4 de julho: ''É claro que eu queria matar o Emerson'', disse, tranquilo e com leve ironia. ''Mas não fazia sentido reagir. Eu iria me arrepender para sempre. Poderia sair um gol, o Boca buscar empate, e eu ser expulso e deixar o time com dez. Precisava me controlar e não dar vantagens.''

''O futebol é jogado com o pé e com a mente. O Emerson foi muy bien.''

''Ele me mordeu forte feito um cachorro'',  ri, todo buena onda. ''A marca da mordida ficou. Normal, não sou criança para ficar chorando, o futebol argentino é raspado, isso aqui não é nada. Quando terminou o jogo, o Emerson olhava para o Erviti e fazia sinal para conversar e pedir desculpas. Eu aceitei, claro, lhe dei os parabéns, eles ganharam bem, assim é o futebol, foi um bom gesto dele. Estava na sua noite de glória, ele poderia ter outra atitude menos simpática'', seguiu Caruzzo.

Caruzzo e Emerson voltaram a se encontrar no ano seguinte, em um novo Boca x Corinthians, desta vez válido pelas oitavas-de-final da Libertadores de 2013.

''Conversamos tranquilo, desta vez ele não me cuspiu'', falou Sheik na ocasião. ''Combinamos de tentar passar uma boa imagem a quem estava vendo a partida. Vingança pelo placar? Nada a ver, cada jogo é um'', recordou Caruzzo.

Ele e Sheik mantiveram o tom amistoso na Libertadores do ano passado, quando Corinthians e San Lorenzo se enfrentaram na fase de grupos em São Paulo.

''O Caruzzo me tratou bem, conversamos na saída de campo e na entrada do túnel, lembramos das coisas de 2012 e falamos do respeito que cada um tem pelo outro. Ele me surpreendeu pelo carinho'', disse Sheik.

Em vez de agressões, ambos trocaram afagos. Emerson postou esta foto em seu Instagram destacando a nova fase com Caruzzo e pedindo tolerância.

Caruzzo concorda: ''Se a gente olhar a dificuldade do futebol, e ver como é complicado chegar a uma final de Libertadores, logo vai perceber que tem muito mais para agradecer que para lamentar. Hoje, posso dizer que tenho o Emerson como um amigo, ele não é um estranho no mundo para mim. A vida vai muito além das patadas, das mordidas ou dos campeonatos. Eu e o Emerson vivemos juntos uma experiência muito forte, importante considerar sempre isso'', concluiu Matías.

Titular do San Lorenzo que enfrenta a Chapecoense nesta quarta pela Copa Sul-Americana, Caruzzo confia em uma convocação para a seleção argentina:

''Sei que o Bauza está me observando e trabalho muito para isso''.