Patadas y Gambetas

Análise: Por que a Argentina faz final e o Brasil é 2ª Divisão no tênis?

Tales Torraga

Os vizinhos Brasil e Argentina são de mundos diferentes no tênis.

O domingo comprova. Enquanto a Argentina alcançou a quinta final de Copa Davis de sua história, o Brasil foi arrasado e vai seguir na Segunda Divisão.

Fiesta argentina, tristeza brasileira – Juan Tessone e Cristiano Andujar/CBT

O que explica a disparidade?

Conversamos com o argentino Esteban Espinosa, treinador e diretor de clube em Buenos Aires. Ele trabalhou também no Brasil até dois anos atrás. Em quatro pontos, suas principais impressões sobre as diferenças que o domingo escancarou.

Raça. Os tenistas na Argentina se matam. Têm muita garra. Vêm de famílias mais pobres, então fazem sacrifícios enormes. Para ser bom aqui, precisa realmente se matar. Junta tudo: o frio, a chuva, a pouca comida, o mau estado das quadras, do equipamento…Aqui, nem pegador de bola tem. Os 'sobreviventes' são especialistas em superação. Quando jogam no exterior, voam em quadra.

Cultura. A Argentina tem ídolos no tênis desde 2000. E esses ídolos movimentam demais o mercado interno. Todos ganham: empresas, academias, jogadores. O Brasil desperdiçou a chance do Guga. Ao contrário da Argentina. Há muitos livros, muitos debates e muito conhecimento circulando. Os argentinos gostam muito de tênis e ainda mais de falar. Isso gera conflitos e desgasta. Mas faz o tênis crescer.

(Abaixo, a vibração no centro de Buenos Aires com a vitória de Del Potro contra Murray na sexta-feira. Coisa parecida no Brasil? Talvez só com Guga. E olhe lá.)

Casualidade. É sempre bom lembrar que a Argentina esteve muito perto de cair para a Repescagem no ano passado. E vencida justamente pelo Brasil. Desde então, passou a trabalhar bem em equipe, algo novo e até surpreendente, e contou com o retorno do excelente Del Potro. Sem ele, nem passaria da segunda rodada.Coragem.  A Copa Davis é como a seleção de futebol. Há as pressões dos clubes e a pressão por jogar na Seleção. A seleção argentina em qualquer esporte é um caldeirão infernal. A Argentina possui hoje tenistas mais capazes que o Brasil para corresponder a esta exigência. O Daniel Orsanic (capitão argentino na Davis) foi corajoso e fez boas escolhas. O Brasil tem ótimos jogadores. Mas ainda sofre para achar esta química que a Davis exige. E que a Argentina só encontrou depois de sofrer com tantos egos que impediram melhores resultados.

Esteban Espinosa (no meio, com Guillermo Vilas e Gabriel Markus, ex-top 40), é diretor do clube Los Cedros, em Buenos Aires, e treina tenistas de vários países.

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