Opinião: Por que argentinos (e brasileiros) são ignorantes no esporte
Tales Torraga
Excelente coluna de Juan Pablo Varsky* no ''La Nación'' de hoje (13). Trechos:
O público argentino se nota em qualquer sede onde esteja um atleta ou time.
Se faz sentir no Maracanãzinho, no vôlei. Na Arena Carioca, no basquete.
No Centro Olímpico de Tênis, com Del Potro.
A versão 'testosterona' aparece nos momentos decisivos.
O incentivo passa sempre pelo fator H. 'Pongan huevos'. 'Metam culhões'.
Tão supervalorizado por fãs e jornalistas, os próprios protagonistas baixam a influência deste aspecto. Julio Velasco, técnico de vôlei da seleção argentina masculina, falou de falta de lucidez para explicar a derrota para a Polônia.
''Os jogadores diziam 'Vamos' como se o problema fosse motivação.''
''O time não estava lúcido.''
Os gritos e os huevos explodiram em Argentina x Lituânia, no basquete.
A Seleção chegou aos cinco minutos finais no contexto ideal: jogo parelho e tempo suficiente para impor sua experiência sobre os europeus.
O time, porém, não executou bem sob pressão e perdeu.
''Fraco jogo mental. Eles foram mais lúcidos. Nos enlouquecemos um pouco com o afã de ganhar com coragem. Ocorre habitualmente no nosso país.''
''Pensamos que se ganha com huevos. Se ganha jogando bem.''
Esta declaração de Ginóbili deveria passar em cadeia nacional junto à de Velasco.
Quando a principal explicação de um resultado passa por palavras como atitude, coragem, caráter e huevos, tudo se reduz a uma questão emocional.
Muitos torcedores, cada vez mais, apelam a este refúgio e se sentem justificados quando os jornalistas elegemos este atalho cruel, falso e injusto.
A análise dos esportes exige conhecimentos e conceitos específicos.
Os Jogos Olímpicos expõem nossas carências e limitações. O argumento de 'não sentir a camiseta' ou 'eles não têm fome' para superar a nossa ignorância é muito tentador. A mensagem chega. O torcedor se apropria. O atleta é maltratado.
Na maioria das decisões, o assunto não passa por vontade.
E sim por decisões tomadas durante o jogo.
A alma não é suficiente para ganhar batalhas. Juan Martín del Potro colocou coração. Mas mais importante foram sua lucidez e fortaleza mental para impor seu plano apenas quando Bautista Agut lhe deu a oportunidade.
No tie-break, Delpo executou melhor que seu rival sob pressão e cansaço.
O torcedor vai seguir cantando.
O desafio é nosso: mais lucidez e menos huevos para explicar o jogo.
Vamos deixar as músicas para o carnaval carioca, onde todos somos iguais.
* Juan Pablo Varsky é – e não de hoje – o principal jornalista esportivo da Argentina, a quem publicamente agradecemos por tantas lições e generosidade.