Argentina assume sua culpa, mas prevê: brigas entre torcedores só começaram
Tales Torraga
Um papelão. É desta forma que o sempre irônico jornal ''Olé'' define a briga entre torcedores do Brasil e da Argentina. As piñas na tribuna pararam a partida de tênis desta segunda (8) vencida por Juan Martín del Potro contra o português João Sousa.
O diário editado em Buenos Aires não transfere culpa: reconhece que ela é também argentina, cuja torcida insiste em adotar tom hostil – 'somos locales otra vez' – e lembrar, em toda e qualquer modalidade, do 7×1 da Alemanha na Copa do Mundo.
Argumenta o ''Olé'': se a Olimpíada fosse na Argentina, aconteceria o mesmo com os visitantes brasileiros. O jornal pede tranquilidade nas competições que estão por vir.
Maior diário da Argentina, o ''Clarín'' segue tom mais dramático: ''A relação está prestes a explodir a qualquer momento. Há muita bronca acumulada pela Copa''.
Todos os meios argentinos cobrem esta Olimpíada com equipes recordes. Uma das razões é a inédita proximidade da sede olímpica com a Argentina. A outra é também óbvia: o enorme espaço no noticiário para o perigoso ranço atual Brasil x Argentina.Mais erudito, o ''La Nación'' traz excelente artigo do jornalista e escritor Sebastián Fest. Retrata o tom crítico incorporado pelos argentinos para tratar deste bochorno.
Trechos:
Quer dizer que a vaia na abertura dos Jogos no Maracanã está bem, que é preciso aceitar esta agressividade local no tênis e em outros cenários olímpicos?
Ou que tantas trapaças na Copa Libertadores podem ser esquecidas?
Não, simplesmente quer dizer que, enquanto não passe a maiores, nós, argentinos, precisamos aguentá-las.
E aproveitar o tempo para lembrar como em 2001 afogamos em vaias durante as cinco partidas de Córdoba os brasileiros que jogaram o Mundial de Futebol Sub-20.
Podemos refletir sobre se de verdade nos orgulha aquela garrafa bilardista de 1990 com água que não era água, talvez analisar cada linha do absurdo histórico do 'Brasil, decime qué se siente' e admirarmos, por que não?, como foram pacientes os irmãos brasileiros naquele Mundial.
A cada tanto também podemos nos perguntar se não os terá incomodado aquela manchete de já muitos anos, ''Que venham os macacos''.
Feitas essas reflexões, e se ainda nos resta tempo, podemos nos enojar.
Atualizada às 13h52: a organização da Olimpíada lançou campanha pedindo paz entre os países. Os governos federais estudam como também interferir no assunto.
Se a rivalidade servisse para desenvolvimento socioeducacional, Brasil e Argentina seriam Canadá e Austrália. Mas não. A rixa só embrutece e empobrece. Muy triste.