O Tata que a Argentina ama
Tales Torraga
Que semanita, esta, na Argentina.
Em meio ao furacão Messi, dois Tata também mobilizaram a opinião portenha.
O primeiro, o criticado técnico Tata Martino. A torcida não entende suas falhas contra o Chile. Segue sem entender por que não foi demitido ou pediu para sair.
O outro Tata vai pelo caminho oposto.
Trata-se de Tata Brown, zagueiro campeão do mundo em 1986 – título que completou 30 anos anteontem com a devida celebração.
Argentino típico, El Brown reconheceu limitações e as venceu com o coração.
Muitas limitações. Criado em povo de 5 mil habitantes, na adolescência ia para estrada de madrugada para tomar carona e treinar no Estudiantes.
Nos anos prévios à Copa, mais problemas.
Primeiro, uma terrível lesão no joelho. Depois, decorrência da contusão, ficou sem clube e sem jogar. Foi chamado para a Copa mesmo assim.
Quando El Kaiser Passarella não teve condições de jogo, Brown, 29 anos, foi o escolhido. E precisou lidar com o desgaste de ter Daniel como colega de quarto.
Deixou a vida em cada bola. Brown e Ruggeri, a dupla de zaga.
Mamita querida! Até na concentração pediam licença para passar.
Jogou 36 vezes pela seleção e marcou um único gol – o primeiro dos 3×2 na final com a Alemanha. Sua comemoração, re emotiva, fez a Argentina chorar anteontem.
Tata já vinha chorando desde o hino. No ponto.
Guerreiro discreto, deslocou o ombro no começo do segundo tempo. Rasgou a camisa, lá enfiou o dedo e, meio imobilizado, seguiu até o fim: ''Só sairia morto''.
Sem barba, sem celular, sem tatuagem, pero con todos los huevos bien puestos.
Sua dedicação já era percebida antes da Copa. Passeando no México, vendo que o zagueiro queria um relógio e não tinha grana, Maradona o deu de presente. ''Sabia que ele seria muito importante, que nos entregaria tudo'', disse El Diez.
Sua idolatria é tamanha que foi o primeiro personagem, na segunda-feira, a repercutir a renúncia de Messi. Aqui, sua espetacular história na final. Colocaram a narração de seu gol para Tata ouvir 30 anos depois. Hoje com 59, é colaborador do estafe juvenil do Estudiantes, seu primeiro amor.
Aos que o criticam por falhas naquela final – a Argentina ganhava por 2×0 e levou o 2×2 -, a resposta sai automática:
– Briegel, o Tanque, o melhor do mundo, perdeu na corrida para Burruchaga e saiu o 3×2. Nos deixem com o Tata.