Vá embora, Messi
Tales Torraga
Com a mesma soberba e leviandade com que se exigiu que seja um líder, agora, em forma de campanha, se instala o pedido coletivo para que Lionel Messi reconsidere a decisão de abandonar a seleção argentina.
O nacionalismo de hoje tem a forma de uma camiseta de futebol.
Como o melhor jogador do planeta pode nos abandonar?
Somos os maiores do mundo. Em que outro lugar vai estar melhor?
Messi mal fez as malas e já o colocamos de novo na boca de lobo.
A hashtag #notevayas e as toscas campanhas no Facebook escondem no desejo de apoio uma cota de doença e prepotente pertencimento: você não pode ir porque quero te ver de novo em campo com a camiseta argentina.
É meu desejo e você vai cumprir.
Esse autorreferencial de se olhar para Messi terminou por maltratar uma relação amorosa e incompleta entre o jogador e a seleção.
Um vínculo sempre contaminado com a comparação com Maradona e pelo saudável baixo perfil, impróprio para atleta como ele em um mundo onde manda o marketing.
Poucos se perguntaram o que sentiu quando desmontou no gramado antes mesmo de se concretizar a derrota. O mal moderno de reter algo a qualquer preço e ignorar a vontade alheia. O maior artilheiro da seleção está obrigado agora a carregar a frustração dos outros, como se não tivera demasiado com a própria.
Depois de suplicar-lhe para que fosse como Maradona, chegou a exigência para que seja como um Deus argentino.
E ele disse basta à sua maneira. De forma seca, sem grandes anúncios. Perdeu as quatro finais que disputou com a seleção e com 29 anos sente que fechou um ciclo.
O que há de errado nisso?
Se um amigo, em crise, nos confessar que quer colocar fim ao seu casamento depois de anos de frustrações, o último que alguém faria é recomendar que mantenha essa relação a qualquer preço sem antes escutá-lo. Muito menos iniciar uma campanha pública de alento com bumbos e pratos. Não nos privemos de escutar os motivos da sua renúncia. Talvez nos queira dizer algo já faz muito tempo.
Vá embora, Messi. Vá tranquilo, se é o que quer.
Se a gente não se ver de novo por esses lados, obrigado por tudo.
Por Alejo Vetere, editor do ''La Nación'', a quem devo uns mates pela generosidade e pela forma sempre muito sensata de descrever a vida – especialmente a portenha.