Fim de ciclo, medos e o adeus de Messi: as reflexões do pesadelo argentino
Tales Torraga
1 – Retrato da insanidade, o goleador histórico da Argentina, no auge, em busca da sexta Bola de Ouro, renunciar à seleção. Fará bem à sua saúde mental, nem que a decisão seja depois revista. Mais que criticado, Messi passou a ser defenestrado. Há certo regozijo com sua derrota apenas pelo sadismo argentino de vê-lo fracassar.
A Argentina vive nas nuvens e carrega sempre mochilas muito pesadas. São os melhores e os piores com a mesma facilidade. Exigem que Messi seja Deus.
É perturbação demais para qualquer ser humano.
Embora compreensível, seu afastamento gera nova má fama. 'Um tipo valente não se entregaria nunca', se fala, defendendo que, afinal, Messi é catalão, não argentino.
Resta ver a reação da AFA e dos patrocinadores. Causou estranheza o anúncio ser ali, em alta temperatura, sem ninguém para levá-lo ao ônibus e ponderar o momento.
2) Martino é maldosamente chamado em Buenos Aires de Muertino. Não conseguiu ganhar a Liga Espanhola com Messi no Barcelona. Não conseguiu ganhar a Copa América com Messi na seleção.
Pior: conseguiu que Messi renunciasse à seleção.
Sua formação titular de ontem foi muito questionada. Di María não demonstrou condição física. E saiu para entrar o volante Kranevitter, não o ofensivo Lamela. Jogou para não perder – não para ganhar. Por isso manteve Biglia, mal todo o tempo. Era para sair, até por convalescer de lesão. Ficou até bater o pênalti. Perdeu.
3) À espera da debandada, a Argentina, assim como o Brasil, já teme não se classificar à Rússia (quando falamos da gangorra de fracasso e triunfalismo, eis).
4) Com Palermo em campo, a Argentina com certeza seria campeã. É a terceira vez pela terceira final seguida que se escuta isso. Higuaín é terrivelmente questionado, bem mais que Messi. Sem falar da ausência de Tevez, Dybala e Icardi.
5) A Argentina não trabalha suas bolas paradas e não tem armador definido. Tem muitos volantes ao redor de Messi. Carece de estratégias. Escanteios sem destino. Faltam bons cruzamentos. Laterais (Rojo e Mercado) inoperantes.
6) Nas três finais perdidas não fez gol. No tempo normal, também não tomou.
7) Outra repetição de história se vê no 'cardiograma' da final. Igualzinho aos do Maracanã e de Santiago. Começa melhor, cai no segundo tempo, diminui o ritmo, joga uma nula prorrogação. Psicólogos indicam medo. A equipe trava diante da chance de derrota e deixa de buscar a vitória. Daí, óbvio, perde nos pênaltis.
8) Há que aponte a felicidade de Diego Maradona pelo resultado e pela manutenção da 'identidade argentina' que apregoa – seja lá o que isto queira dizer.
9) Maradona foi e é atacado. Messi foi e é atacado. Os campeões de 1978 são atacados pelo 6×0 no Peru. Os de 1986 são atacados pelo gol de mão e pela irrelevância frente a Maradona. Quer paz? Jogue em outro país.
10) Que o inimigo Chile, então virgem de títulos e agora bi, desintegre a maior geração da história do futebol argentino, deixa o ferro ainda mais pesado.
11) A 'geração dourada' argentina ganhou no basquete, no tênis e no hóquei.
Não no futebol.