Patadas y Gambetas

‘Tristeza não tem fim’ na eterna fila argentina

Tales Torraga

Em seu maior sucesso, o rock de Andrés Calamaro canta que 'tristeza não tem fim'.

0x0 no tempo normal e na prorrogação. Pênaltis. Estados Unidos.

Brasil 1994? Não. Argentina 2016.

A fila de 24 anos sem Copas do Mundo para o Brasil em 1994.

A fila de 23 anos sem qualquer título argentino hoje.

Buenos Aires viveu noite tensa e madrugada explosiva.

'Hoje você se consagra herói', Chiquito Romero.

Não.

Não, Messi, impossível ser mais boludo.

O grito ensurdecedor de Mascherano.

O sangue frio de Agüero.

O silêncio nas cobranças chilenas.

O silêncio na vitória chilena.

Tristeza não tem fim.

Não há a menor lucidez portenha neste instante.

Eternos vice-campeões, máquina de perder finais, se ouve de tudo na capital.

O domingo frio, de 10 graus, terminou re caliente como nunca.

Higuaín, Messi, Agüero, Romero.

Martino.

''Se perder, melhor não voltar'', alertava Maradona.

Profético, El Diez.

Os jogadores explodiriam, estava na cara desde o hino nacional.

O jogo das pancadas vai machucar para sempre.

Buenos Aires vai se arrastar neste começo de semana.

Beberam, fumaram, berraram.

Viveram. Perderam.

Não à toa é a terra do tango.

Seja o tango, seja o rock, seja o futebol, seja a política, seja a literatura.

Tristeza não tem fim.

Este Chile não cansa de ganhar. Esta Argentina não cansa de perder.

Na Buenos Aires cinematográfica, filme repetido.

Déjà vu. E não há Darín que faça rir.

É para chorar, gritou o site do ''Olé''.

Precisa gritar, precisa mandar, precisa chorar?

Por que achar que o jogo seria decidido em 60 minutos?

Por que achar que a máquina argentina colocaria a história no lugar?

Por que olhar tanto para o umbigo e chutar pênalti na Lua?

Por que não ganha nada depois de Maradona?

Por que Mascherano segue 'comendo merda'?

Por que não aceitamos Borges e vemos o futebol como mera 'vulgaridade inglesa'?

Por que esta falta de autoridade para jogar finais?

Por que três finais jogadas e nem um gol marcado?

Por que sete finais seguidas perdidas?

Por que de novo um técnico argentino?

Por que a derrota é tão dura e tão difícil de lidar?

Por que uma bola, 22 homens e metros de grama podem fazer este estrago?

Tristeza não tem fim. Tem barba.

Não foi um jogo, uma final, uma derrota.

Sim um ponto de reflexão.

Mas como? Em Buenos Aires, na cidade da fúria?

¿Pero qué querés que te diga, loco?