Patadas y Gambetas

Celular no vestiário revolta a Argentina: ‘Sem respeito e sem compromisso’

Tales Torraga

A goleada na Venezuela e o recorde de Messi, agora maior artilheiro da Argentina, ficaram em segundo plano. O assunto da seleção em Buenos Aires é a já clássica foto dos sete jogadores perfilados e usando seus celulares no vestiário de Boston.


Foi captada pelo lateral Rojo e postada no Instagram pelo atacante Lavezzi, primeiro à direita. Ao seu lado, Messi, Agüero, Banega, Mascherano, Maidana e Higuaín.

Antes do banho. No meio da sujeira e da bagunça.

No chão, as camisas da Venezuela e da Argentina – razão de muito barulho da torcida pelo que teria sido falta de respeito dos jogadores com um símbolo nacional.

Educadores e psicólogos foram às TVs e rádios portenhas para falar da foto.

As análises mais extensas ponderaram que apesar da fama e da fortuna, os jogadores são, óbvio, humanos comuns sofrendo para moderar a tecnologia em suas vidas. 'Síndrome da cabeça baixa', como a Argentina trata o vício pelo celular.

Sobrou também para o técnico Tata Martino por falta de pulso em limitar o uso do celular em ambiente que deveria ser de estrita interação humana e profissional.

(Necessário avaliar: comissões técnicas hoje passam estatísticas e outros materiais a jogadores pelo celular. Não parece ser o caso, mas convém colocar no contexto.)

Há também as queixas sobre o mau exemplo – um pouco desubicadas por ser a típica situação privada que sequer deveria vir a público: E agora, como cobrar dos pais que tenham firmeza para frear as crianças no uso de consoles e celulares?

São clássicas as brigas nos cinemas de Buenos Aires por gente incomodada por ruídos banais como alguém mastigando pipoca. O uso do celular, claro, gera discussão e agressão física. Se agarran a trompadas mal, están todos re locos.

Daí a fúria de certas análises em direção aos jogadores.

“Não são homens que jogam futebol, são meninos do Playstation que trocam um pouco o game pelo futebol. Se perdem, dizem 'vamos seguir trabalhando' e ya está.''

Así, de una.

''Acabou o coletivo, a comunhão da experiência em conjunto. É o individualismo absoluto, o isolamento feroz, não à toa a seleção não ganha nada há 23 anos.''

Outras vozes escuchadas nos cafés, bares, restaurantes, calles, subtes y colectivos:

''É a nova geração em seu habitat. Não é a imagem de uma seleção vitoriosa, e sim de uma humanidade derrotada.''

''As pessoas estão encapsuladas a maior parte do dia enquanto o mundo passa por fora das maquininhas. É a estupidez instalada em cada um de nós.''

''O celular matou a adrenalina do momento.''

''Sabe o que eles estavam olhando? O Google, para descobrir como ser campeões.''

''Esta é a nova forma de concentração!''

''Zero concentração! Estavam todos no Tinder!''

''Não podiam pegar o celular no hotel? Ou a caminho dele? Vergonha! Assim sentem a camisa argentina!''

''Com tal nível de estupidez, como ser campeões de algo?''

''Têm o cérebro abduzido por uma tela. Que surpreendente capacidade de comunicação entre eles.''

''O dia em que houver Mundial de Playstation, Argentina campeã dez vezes seguidas.''

''São uns viciados individualistas que vivem pendentes de si, não do momento real.''

''Os que acham isso normal só provam como a sociedade está doente.''

''Os que criticam são todos uns loucos. Se festejam a vitória, criticam que comemoraram ganhar da Venezuela. Se estão falando com a família, ou se estão fazendo qualquer outra coisa, criticam também. Argentina: país de gente doente e de um bando de velhas futriqueiras.''

Há um mês e meio, D'Alessandro – 35 anos, longe de ser um garoto incapaz de controlar seus impulsos – foi mostrado usando celular no banco de reservas do River Plate enquanto o time perdia clássico para o San Lorenzo pelo Argentino.

Foi repreendido publicamente por Enzo Francescoli, dirigente do clube: ''Não é o ideal, pois assim não conseguimos pôr limite nos jovens. Mas também não é para arrancar seus cabelos''. D'Alessandro pediu a palavra numa reunião e se desculpou.

Foi citada também a foto de Maradona e Olarticoechea na fila do telefone público, único meio de comunicação da última Argentina campeã mundial, no México 1986.

Por falar em México, claro que lembraram do vestiário da seleção – gritando e pulando – comemorando a vitória sobre os ingleses, contraste total de eras.

Convenhamos, muchachos: também de relevância de partida com o 4×1 Venezuela.

O excesso do uso de celular e a necessidade de limitá-lo geraram este simpático clipe dos portenhos do Tan Bionica com o colombiano Juanes. Pegadizo, el tema.

(…) Estoy un poco perdido y lo saben
Estoy un poco perdido, encontrame
Estoy un poco perdido y me cabe (…)