Clássica cabeluda, Argentina tenta sair da fila agora com barba e tatuagem
Tales Torraga
A história do futebol argentino se escreve com cabelo comprido, cravou Diego Armando Maradona há 20 anos. Quem tem mais de 30 e viu Kempes, Luque, Redondo, Caniggia – e o próprio Maradona, Pelusa pela cabeleira de jovem – sabe.
História escrita até a Era Maradona, a última a fazer da Argentina uma campeã.
El Diez saiu da seleção em 1994. E a Argentina não ganhou mais nada. Incrível.
Sem cabelo comprido – mas com barba e tatuagem – a Era Messi terá um crucial sábado à noite. Joga às 20h contra a Venezuela pelas quartas-de-final da Copa América. Se perder, aumentará a fila da seleção argentina, hoje 23 anos sem títulos.
A pressão faz cair o cabelo e põe as barbas de molho até de um gênio como Messi.
Cabeludo até 2008, Lionel tem arrastado vários colegas na superstição de deixar a barba crescer nesta Copa América. Agüero, Romero (seu companheiro de quarto) e Higuaín são três deles e se somam a barbudos como Lavezzi, Maidana e Otamendi.
Supersticiosa que só, a Argentina não vive sem as cábalas. Mandinga é pouco.
As tatuagens – pelo menos as atuais, tão grandes e numerosas – são adereços também inexistentes nas gerações anteriores de argentinos. E os de hoje, un poco locos, seee, tatuam em si os escudos dos clubes de coração, um tiro no pé – ou melhor, na pele – no futebol extremamente profissional e pouco passional de hoje.
Ángel Di Maria tem uma gigante tatuagem do Rosário Central em uma das canelas. Banega é mais discreto: colocou o Newell's Old Boys na panturrilha direita.
Outros que levam o clube no corpo são Kranevitter e Maidana, campeões pelo River, e Andújar e Rojo, pela Libertadores conquistada pelo Estudiantes em 2009.
O visual na Argentina é tão valorizado que houve tempo em que a seleção discutia mechas, e não Messi. Tiaras e cabeleiras geraram tamanha discussão que o técnico Daniel Passarella impôs cabelo curto para os jogadores da Copa de 1998.
Fernando Redondo mandou Passarella passear. Copa ou cabelo? Quis o cabelo.
Símbolo de rebeldia frente aos militares e sinal da paixão pelo rock – gênero mais ouvido no país -, a cabeleira argentina está sumindo também fora dos campos. O tempo destinado a ela hoje vai para as novas distrações neste mundo repleto delas.
'Toda su locura sale por el pelo', cantava Juanse. No más, viejo. No más.