Sem salário e despejado, atacante do Quilmes vai morar na casa de torcedor
Tales Torraga
Ao mesmo tempo, uma história triste e feliz.
Fundado há 128 anos – disputou contra o São Paulo a Libertadores de 2005 -, o Quilmes passa por grave crise financeira. Um de seus jogadores, Sergio Hippendinger, está sem receber do clube há sete meses. Não viu a cor do dinheiro em 2016. Morava em um apartamento alugado pelo clube. Foi despejado.
E recebeu, de um fanático, a amizade e solidariedade que não teve do clube. Sergio, 22 anos, no Quilmes há nove, mora hoje na casa de um torcedor do time.
Cristian Muñoz abriu a porta da casa onde vive com a mulher e o filho de seis anos. Sergio espera propostas. No Quilmes não joga mais: ''Cristian é amigo de um outro jogador do clube. Quando ele me ofereceu para morar com sua família, logo aceitei''.
''Parece que estou em um hotel de luxo. Me tratam perfeito, são muito amigos. Só preciso jogar videogame com o nene. Já virei seu irmão mais velho, je.''
Cristian, o dono da casa, diz que ela estará aberta a Sergio pelo tempo que precisar: ''Seja um mês ou um ano. Ele veio do interior e não tem maldade, é um tipo bárbaro''.
Quilmes é uma cidade-quase bairro de Buenos Aires. O time é rival dos vizinhos Lanús e Banfield. Ficou famoso no Brasil pela confusão entre o zagueiro Leandro Desábato e o atacante Grafite, do São Paulo, por ofensas racistas no Morumbi.
Curioso: o apelido de Sergio é 'Negro'. O de Cristian, 'Pela' – pelado, pela careca.
O Quilmes está na Primeira desde 2012. É o clube que mais caiu e também o que mais subiu na Argentina. Espera eleições em agosto, o que deixa os dirigentes atuais ainda mais omissos para honrar pagamentos: ''Dos últimos nove meses só pagaram dois, e com toda fúria'', contou Sergio. Há, claro, uma enorme debandada.