Patadas y Gambetas

Opinião: Só a louca Argentina põe Messi no banco

Tales Torraga

Buenos Aires enfim achou o lugar de Messi na seleção – no banco de reservas.

A Argentina tem o melhor jogador do mundo. E muitos querem que ele não jogue.

O que sabe o mundo do futebol? Só a Argentina sabe das coisas. Não o resto.

Buenos Aires vive realidade paralela.

O ufanismo, o triunfalismo e o patriotismo do último século, da imprensa inclusive, estão provocando uma massividade de mentes carentes de críticas nos argentinos.

Política e esporte, onde mais se nota. O futebol é escandaloso. Un quilombo total.

O triunfalismo te tira a ótica das coisas e te leva ao fracasso, já alertava o técnico Alejandro Sabella. ''Nasci escutando que éramos os melhores do mundo e não havíamos ganhado nada. É algo normal. É nossa jodida forma de ser.''

''Às vezes nos achamos mais do que somos. A realidade nos faz tocar o solo.''

La Nación

Muitos na Argentina criticaram José Pékerman por deixar Messi no banco. Isso foi há dez anos. E muitos detonaram e detonam Messi pela enana década de seleção.

Pékerman foi o melhor técnico argentino recente; o triunfalismo o arruinou, pena.

Deixar Messi no banco o coloca também em outra ótica. Ele é considerado, sim, o melhor jogador de todos na ótica portenha. Mas não no sentido bruto da palavra.

Ele deixa os demais abaixo de si porque não faz fumaça. Ano após ano, tenta se superar. E não se acha superior a ninguém. Nem dentro, nem fora do campo.

Quando Messi não está, cada um dá o seu melhor.

Quando Messi está, os demais descansam sua genialidade.

Seria bom: seus companheiros mais espertos e notando como jogam sem Messi para repetir com ele em campo e explorar seu talento.

(Já pensaram?)

Sem Messi, a Argentina joga mais relaxada, mais aberta e com muitas variantes.

Com Messi, poderiam dizer que a Argentina golearia o Chile.

Mas a opinião geral é outra.

Com Messi, a Argentina é maldita.

Uma equipe que não relaxa, que joga mais fechada, sem variantes e que perde a espontaneidade. O jogador intuitivamente busca Messi.

A Argentina ainda não aprendeu a jogar com Messi. Eis sua grande diferença para Maradona. Maradona ensinou a Argentina a jogar para si.

A Argentina tem um quebra-cabeça a resolver. E em curto prazo. A pressão está crescendo. E a presença de Messi está se tornando insustentável para ambos.

A seleção é tão atroz que Riquelme a renunciou duas vezes.

Tevez disse mais de uma vez que sofria com ela, principalmente depois de errar pênalti e ser sepultado.

Messi, a derrota é argentina. Sempre quem está fora é melhor.

Quer triunfar? Saia.


Sequer o entendem, quanto mais o aproveitam.

Como aproveitá-lo? Millonarios, distintos somos, cospem na sua cara no aeroporto.

Dizem que a seleção não o representa. Insistem que Messi não sente a camiseta.

Criticam Martino por errar em colocá-lo, ressaltam que Mascherano é único.

O único vencedor nesta seleção de perdedores.

O argentino não considera Messi um campeão porque é pouco expressivo e chora em silêncio. Mascherano sim é um herói. Prepotente ante cada rival que lhe cruza. Mostra seus sentimentos em cada jogada. É corajoso e chora em campo.

Não importa que nunca chute a gol e não dê assistências.

Não importa. Esse representa a camisa e merece respeito.

O talentoso não serve para nada.

Muito menos na derrota.

A última Copa América não mudou o olhar argentino sobre o Chile: é um rival inexpressivo. E ganhar por golzinho de diferença, e mostrando jogo anódino, monótono e apático, cheio de passes errados e ataques desperdiçados, mantém o cérebro coletivo conformista, enchendo-o de ilusões sem fundamentos sólidos.

''Jornalismo do dia seguinte'', chamam. Uma seleção que não encanta ninguém, mas conforma todo mundo, e deixa Buenos Aires com cara de sabichona, como na política: ''Hay que esperar, che. Vamos de menor a mayor y seremos campeones''.

Esperar o quê? Que passe a dor de Messi e ele ponha algo de qualidade com uma garoa aqui outra ali, porque seus colegas vão te devolver um tijolo nos pés?

Estação José Hernández do subte portenho: homenagem a Messi

Esperar que todos os adversários joguem tão mal como o Chile, por milagre de Nossa Senhora de Luján? Assim pensadores incentivam a ilusão portenha.

* Por Tales Torraga. Cinco últimos anos em Buenos Aires na busca única por histórias na UBA, Villa Freud e Plaza de Mayo. Com o coração sempre em Núñez.