Muito antes de Branco. A água batizada que quase matou Passarella em 1986
Tales Torraga
A Argentina futbolera viveu a madrugada com ansiedade para ver Daniel Passarella no filme '1986, La História Detrás de La Copa', mostrado em trechos na TV Pública.
Esta é a história mais louca (da louca história) da seleção.
Os 30 anos passados reforçaram a desconfiança de Passarella ter sido envenenado para não jogar aquela Copa. Sua ausência abriu espaço para o comando de dois desafetos seus. O técnico – e médico – Carlos Bilardo e o capitão Diego Maradona.
O filme está no ponto e aqui.
A produção deu voz a todos e trouxe novidades. Bilardo: ''Buscamos os melhores médicos do México''. Passarella: “Procurei outras opiniões. Descuidaram de mim”.
Seu pai apontou que realmente deram algo ao filho para sacá-lo. “Injustiça”, disse o preparador de Maradona. “Temíamos por sua saúde”, contou o atacante Valdano.
Quem atacou com firmeza Bilardo e seu corpo médico foi o goleiro Pato Fillol, também afastado daquele grupo antes de ir ao México: ''Bilardo levou Daniel e lhe deu um purgante que o tirou da equipe. E quase o mata'', falou ao jornal ''La Voz''.
''É literal, todos sabemos, porém ninguém se anima a dizer. Eu não tenho problema. Onde esteve Passarella durante o Mundial? Internado com um diarreia infernal. Perguntem a ele ou aos que foram vê-lo. Sou um dos poucos que contam.''
Passarella foi capitão da Argentina campeã da Copa de 1978 – condição que abusava ao moer os rivais a patadas, codazos y 'donde gustes y cuando quieras'.
Daniel em 1985 fora também o herói da classificação da Argentina para a Copa do Mundo no México no dramático 2×2 com o Peru em Núñez. Mas sua presença em 1986 expandiria o legado do antecessor César Menotti, o que Bilardo não queria.
Personagem fundamental para entender tudo isto é Raúl Madero, técnico da seleção em 1986, ouvido recentemente pela revista 'El Gráfico'.
''Passarella tomava whisky e pensava que os cubos de gelo não iriam fazer nada.''
''Faltava recuperar quilo e meio, e Bilardo lhe disse que o titular era ele.''
''Antes do jogo contra a Itália, Carlos falou: 'Está aqui sua camisa, se é profissional e está se sentindo bem, me diz e joga. 'Não, com os italianos se faço uma besteira, eles me pintam a cara, espero outro jogo', respondeu Passarella.''
''Depois do 1×1 com Itália, trabalharam os que não haviam jogado. Foi um treino intenso, com calor, e ele queria se meter. 'Não brinque, vai ter problema. Vou quebrar uma garrafa na sua cabeça, se disse para não fazer, é para não fazer.''
''Não me deu bola, foi falar com Bilardo, se meteu e machucou a panturrilha. Depois, se recuperou e Bilardo lhe disse outra vez, 'Se sentir bem, te ponho na semifinal'. Nem quis saber. Fomos campeões e nem cumprimentou. Un tipo muy jodido.''
A polêmica antecedeu o que ocorreria em 1990, quando, segundo Maradona, um massagista argentino deu água com tranquilizante ao lateral-esquerdo Branco em plena oitavas Brasil x Argentina – tudo sob instrução do técnico e médico Bilardo.
Re complicados, che.