Jovens, lealdade e bons gramados. O ‘Telê argentino’ que formou Patón Bauza
Tales Torraga
Edgardo Bauza tem coisas de Telê Santana. Não é só a opinião da torcida. É também a do presidente do São Paulo, Carlos Augusto de Barros e Silva.
E está longe de ser coincidência. “Tudo que aprendi veio de Carlos Griguol'', é o mantra de Patón Bauza. E quem foi Griguol? Ninguém menos que o 'Telê argentino'.
Ou ler isso aqui de Griguol (lúcido e feliz aos 81 anos) não é lembrar de Telê?
* Obriga jogador a estudar e aconselha a comprar casa antes do carro.
* Corta o gramado de treino, ele mesmo, cedinho e sozinho, às vezes com trator.
* Distribui comida nos alojamentos das categorias de base.
* Cuida pessoalmente das bolas e roupas de treinos.
* Passa o dia todo no clube. Mora nele.
* Repete: “A base é tudo, é onde os clubes devem investir''.
* Usa boné de padarias ou mercados. Troca publicidade por comida aos jovens.
* Depois de repetir fundamentos por horas, jogadores simulam entrevistas entre si para melhorar o vocabulário e a capacidade de expressão.
Não é tão Telê, mas de Griguol também interessa saber:
* Batia forte na cara e no peito dos jogadores para ''acordá-los ou deixá-los com raiva antes das partidas''.
* Tocava bateria em casa para extravasar depois dos jogos.
Meio-campista de seleção que jogou no Central de 1966 a 1969, Griguol virou técnico em 1971 lá mesmo. Lançou Bauza em 1977. Viveram lado a lado em 1978.
Depois, brilhou no Ferro Carril Oeste de Buenos Aires, onde foi campeão argentino em 1982 e 1984, e no Gimnasia de La Plata. Não ganhou títulos, mas lançou excepcionais jogadores como os irmãos Schelotto, hoje técnicos do Boca Juniors.
Priorizava contratos longos, fazia questão de ser leal aos clubes.
A disciplina de Griguol encontrou muita resistência em sua única passagem por um clube gigante, o River Plate, em 1987. Chegou com fama de só escalar jogadores de cabelo curto. Seus times eram chamados de 'picapiedras' – rústicos porém efetivos.
Louco e rebelde, o atacante Búfalo Funes o recebeu no primeiro treino com tiros (!) para mostrar quem mandava. Cabezón Ruggeri e Troglio estavam lá e contam.
No fim de carreira, largou o cargo em 2004, Griguol ia aos treinos com uma camiseta: 'Técnico – um sonho ou um pesadelo, escolha como quer ver'.
''É muito complicado ser técnico, trabalha-se de cedinho até bem tarde. E por aí pode dormir e, se descuidar um segundo, capaz que te mandem embora'', repetia.
Tão importante, a pensão da base do Ferro se chama 'Don Carlos Timoteo Griguol'.
Lá, aboliu a concentração. Quem queria farra se prejudicava sozinho. Quando jogava em casa, combinava de almoçar no clube e ia caminhando até o estádio.
Obrigava o time a frequentar o clube como gente comum. No Ferro, interagia com os sócios e participava de campeonatos de pingue pongue, truco, basquete e vôlei.
O jeito paizão não o impedia de ter sangue quente e reclamar com árbitros – outra semelhança com Telê. Uma frase sua de 1995 no Gimnasia entrou para a história.
Uma deliciosa entrevista de Griguol em 1998 no ''La Nación'' está aqui.