Preparador demitido do Racing: “Choro no banheiro, escondido do meu filho”
Tales Torraga
Argentino de 41 anos, Juan Carlos Gambandé virou nefasto personagem da história da Libertadores da América. Preparador de goleiros do Racing, saiu do Independência desta maneira ao perder por 2×1 para o Atlético-MG na quarta-feira.
Na frente das arquibancadas, simulou descascar e comer uma banana.
De fato, comeu uma banana – das mais indigestas.
Foi demitido do Racing por racismo ao chegar à capital portenha. Estava no clube desde janeiro. Entrevistado pela rádio La Red, de Buenos Aires, chorou e contou:
''Posso assegurar que não se sabe o que se sofre deste lado. Eu, minha família e meus filhos. Me dá vontade de chorar e vou ao banheiro para meu nenê não ver. Ele é torcedor do Racing. Meio feio, explicá-lo. A vida continua e há que aprender.''
''Outras pessoas se equivocam de maneira mais forte e pagam menos. Perder o trabalho não é uma brincadeira. É algo muito duro, ainda mais no momento do país. Estava feliz e muito bem no Racing. É sinceramente um golpe que dói muito.''
''Os brasileiros me parecem gente extraordinária, muito educados, sempre vou de férias. No estádio nos insultaram todo o tempo e é assim, na Argentina e no mundo. Quando saía, e a arquibancada nos insultava, havia ofensas, tive uma desafortunada atitude.''
''Entendo as pessoas do Brasil. É uma atitude muito feia quando alguém a vê assim, friamente. Agora terei que pagar o erro com sangue. Assim será''.
''Me custou muito chegar aqui. Como jogador saí do Newell's, sempre no Ascenso [Segunda Divisão] e me preparei muito porque me apaixonei. Me dedico, sou professor de educação física.''
''Muita gente me conhece, sabe a classe de gente que sou e como me comportei em toda minha carreira.''
''Não pensei que ofendia tanto. Duas horas depois pedia desculpas no Facebook.''
''Me comunicou [o vice] Jiménez. Estavam todos muito doídos no corpo técnico, me aceitaram muito bem como empregado do clube. Facundo [Sava, o técnico] estava bastante aflito e abatido.''
''Tomara que possam rever algo. Peço desculpas às pessoas que ofendi, a muitos brasileiros. E alguns argentinos também. Que entendam que sou humano e me permitam ter cometido um erro. Os que queriam me ver assim…Os erros se pagam.''
Gambandé carrega o trauma de, ainda no ventre, seu pai, o tenente Juan Carlos, de então 24 anos, ser assassinado pelo ERP, o Exército Revolucionário do Povo. Era 1974 em Santa Fe. Estava saindo de casa, de carro. O preparador pediu e – não recebeu – indenização ao governo nacional argentino.