Patadas y Gambetas

Volta olímpica na Bombonera: cadeados, torcedor-gandula e ameaça de morte

Tales Torraga

Uma abusada volta olímpica do River Plate na Bombonera antes do próprio jogo contra o Boca Juniors. Foi o que ocorreu há exatos 30 anos – 6 de abril de 1986.

Campeão antecipado, não perdeu a perigosa chance de tripudiar o rival. ''A torcida do Boca me ligava: 'se derem a volta, te mato'. A torcida do River falava: 'se não derem a volta, te mato'. Ninguém sabia o que fazer'', lembra Beto Alonso, craque daquele River que ganharia Argentino, Libertadores e Mundial em 1986.

O governo mandou representante à concentração do River para barrar a volta olímpica. Não eram tempos tranquilos. A Argentina saíra da ditadura em 1983.

Alonso se impôs: ''Me tiram morto de campo, mas a volta olímpica eu dou. Não me importa nada. Que arremessem o que quiserem, que me partam a cabeça, mas esse prazer ninguém vai me tirar''.

O River sentiu a hostilidade a torcida do Boca logo na chegada: uma gigante pedra de gelo caída de muito alto afundou e arrebentou o teto do ônibus que levava o time.

Gatti, goleiro do Boca, pediu para jogar com bola laranja. Temia não ver a branca em meio aos papéis picados. Com ela, Alonso abriu o placar. Fez também o segundo do 2×0 River – em cobrança de falta desviada, já com a pelota branca.

Durante a partida, os jogadores do River trocavam insultos e outras ''gentilezas'' com os gandulas – torcedores barra-pesada selecionados a dedo pelo próprio Boca.

Sua cara triunfalista é das mais fortes da passional história do futebol argentino.

Alonso está com 63 anos e é embaixador do River. Há espetacular entrevista sua no jornal ''Olé!'' desta quarta-feira:

– O clima estava pesado, mas você gritou os gols como se estivesse no Monumental…
– Depois da cabeçada passeei pelo lado da tribuna do Boca beijando a camisa. No segundo, me ajoelhei de frente à arquibancada deles, com a torcida do River na bandeja de cima. Meus companheiros me abraçaram para me tirar dali: mas não iam me sacar ni en pedo, ni loco. Alfaro se cobria atrás de mim para que não lhe partissem a cabeça. Depois falei: “Vocês são uns comédias, festejavam me usando como escudo''. Atiravam até cadeados na gente.

Clarín: 22 presos e 35 feridos em La Boca

– Houve prêmio extra?
– Não nos interessava isso. Interessava ganhar do Boca. Não era por dinheiro, havia outros valores em jogo. Queriamos algo que ia ficar na memória da torcida.

O relato do ''La Nación''

– Aquele Boca tinha jogadores ásperos como Hrabina, Pasucci, Higuaín…
– Não é mais macho ou lindo aquele que bate. Lindo é o que pede a bola, que não se esconde. Pedia sempre a bola porque se acertavam uma patada, eu ia para outra. Nunca encolhi. O psicológico: Me bate? Vou te buscar para driblar de novo.

riverbombonera

O River deixa o gramado, perfilado e agredido

– E a cada quanto você se lembra do gol da bola laranja?
-Todas as noites quando apoio a cabeça na almofada.

Alonso, 63 anos e um beijo na lembrança de todas as noites

De tão especial, aquele jogo gera ao River até uniforme comemorativo. Curtiram?

Martínez, Mercado e Lucho Gonzalez com a camisa alusiva à Pelota Naranja