A superação de ‘MaraBiglia’: dos papos com o pai morto ao auge na seleção
Tales Torraga
Nada de Messi, Tevez, Agüero ou Di María. Se a Argentina tem sossego para visitar amanhã (24) o Chile às 20h30 é graças ao volante Lucas Biglia, autor do gol do 1×0 na Colômbia em novembro, única vitória do país em quatro jogos das Eliminatórias.
Biglia tem 30 anos e joga na Lazio. E precisou correr muito para eliminar oito quilos e desarmar a fulminante morte do pai, Miguel, em 2008.
“Ele jogou futebol e dormiu. Às 3, 4 da manhã, quando foi ao banheiro, desmaiou. Morreu de infarto”, contou à revista El Gráfico.
“Eu estava em pré-temporada na Bélgica. Voltei ao quarto e vi muitas ligações perdidas. Pensei que era pela saída do Anderlecht. Fiquei contente. Quando liguei ao meu empresário, me disse: ‘Já comprei tudo, venha à Argentina ver seu pai’.''
''Liguei para o meu irmão e para a minha mãe e eles contaram que estava tudo certo. ‘Venha pelas dúvidas. Vê-lo te fará bem’. Jamais imaginei que o encontraria no caixão. E só por dez minutos, porque o corpo já cheirava.”
Biglia tinha 22 anos. “Ia ao cemitério todos os dias para conversar com a foto da lápide. Fiz isso por uma semana. Era injusto demais meu pai sair do mundo assim. Tinha muito o que falar com ele. O Anderlecht me ligava todos os dias para voltar, que eu era importante para o time, que vinha a Champions…”
Lucas viajou. E só transferiu os problemas da Argentina para a Bélgica. “Disse ao meu representante que iria parar de jogar futebol.”
O Anderlecht logo notou. Biglia brigava por tudo. Com o roupeiro, com o flanelinha e com a balança. Engordou oito quilos.
O mesmo que sua mulher, Cecilia, grávida de Allegra, primeira dos dois filhos do casal. “Ela nos deu felicidade em uma hora muito triste. Meu pai morreu em julho. E em agosto soubemos da gravidez.”
A filha equilibrou Biglia por pouco tempo. Em janeiro de 2013, passou dez dias na cama aos cuidados da irmã psicóloga. Estava estressado e deprimido.
O alívio veio ano depois. Já na Lazio, soube que jogaria o Mundial 2014 no Brasil.
“Me tranquei no carro em Roma e chorei sozinho uns dez minutos. Durante a Copa dizia que estar ali uma era homenagem ao meu pai. Ele foi também meu técnico e quem me pôs como volante. Eu era armador.”
Biglia começou na reserva, mas ganhou a posição e foi titular na final contra a Alemanha em 13 de julho – um dia depois do aniversário da morte do pai.
Lucas hoje é chamado na Argentina de ''MaraBiglia'' por homens (pelos arranques e desarmes) e mulheres (pela pinta de galã).
O desempenho que o credencia ao Manchester United e Real Madrid o põe também como titular argentino. Os 11 amanhã devem ser: Romero; Mercado, Demichelis, Funes Mori e Rojo; Biglia, Kranevitter e Banega; Messi, Agüero e Di María.