Patadas y Gambetas

Gênio precoce. 6 itens que justificam apelido de técnico rival do São Paulo

Tales Torraga

River Plate e São Paulo jogam hoje às 19h30 tendo ao lado do gramado do Monumental os técnicos que ganharam as duas últimas Libertadores.

Edgardo Patón Bauza, 58 anos, vencedor pelo San Lorenzo em 2014, hoje no São Paulo, e Marcelo Gallardo, 40, campeão pelo River que dirige nesta noite portenha.

A diferença de idade entre Bauza e Gallardo é evidente. Patón estreou como técnico em 1998, ano em que Gallardo vestia camisa 20 na Copa do Mundo da França.

Gallardo 1998, primeiro ano de Bauza como técnico

Poucos técnicos são tão meteóricos quanto Muñeco – Boneco, um de seus apelidos.

Estreou aos 35 no Nacional do Uruguai. Aos 39, pelo River, enfileirou a tríplice coroa – Recopa, Libertadores e Sul-Americana -, o que ninguém jamais conseguira.


Aos 40, Luxemburgo acabara de deixar o Bragantino. Telê era campeão brasileiro pelo Atlético-MG em 1971. Tite, vencedor da Copa do Brasil com o Grêmio em 2001.

Paulo César Carpegani conquistou Libertadores e Mundial aos 32, é o antecedente mais forte. Mas sua carreira daí para frente foi daí para trás.

Para o River, Gallardo já é mais que todos estes. É bandeira no estádio e seu nome, sempre o mais gritado. ''Muñeeeco! Muñeeeco!''. Lo más grande que hay.

Repassamos seis itens que justificam sua trajetória e seu apelido de  gênio precoce.

EQUIPE
''Em primeiro a equipe, em segundo a equipe, em terceiro a equipe'', repete e executa. Sem atritos, pôs no banco ou dispensou grosos como Aimar, Saviola, Sánchez, Cavenaghi e Teo Gutiérrez. Muito respeitado também pelo craque que foi.

''Uma lista no armário tem o aniversário de todos: jogadores, corpo técnico, roupeiros, massagistas e até cozinheiros. Uma relação de 57 nomes. Para não esquecer de cumprimentar alguém. Importam os profissionais, porém sobretudo as pessoas'', é trecho de sua biografia 'Gallardo Monumental'.

CONTROLE EMOCIONAL
''Fiz terapia porque era meio chucro'', reconheceu Muñeco em 2014. Esquentado, arranhou a cara de Abbondanzieri, do Boca, na semifinal da Libertadores 2004.

É adepto de práticas que oferecem calma a si e aos jogadores. A tranquilidade que demonstra hoje vem daí. Quando foi expulso na partida de ida da final da última Libertadores, reconheceu o erro e deixou o campo o mais rápido possível.

Na véspera da decisão da Libertadores do ano passado, relaxou jogando tênis com os demais sócios do River. Pela paz que demonstrou ao ver seus jogadores agredidos na Bombonera, foi chamado de Gallai Lama, referência ao líder budista.

Abraçando o filho, gandula no Monumental

OLHO CLÍNICO
Semifinal da Libertadores, jogo de volta contra o Guaraní, Paraguai. Assistência de Viudez e gol de Alario. Ambos desconhecidos e indicados por Gallardo para o River que perdera Rojas e Teo, responsáveis exatamente por essas funções.

Cavando a expulsão do corintiano Mascherano

Por ser jovem, indica contratações com as quais jogou ou viu jogar, como o atual atacante Iván Alonso, 37, ex-Nacional.

Comemorando a Libertadores com os filhos

TIME COPEIRO
Jamais o River havia obtido tal desempenho em Copas. Eliminou o Boca, eterno rival, duas vezes em seis meses. Na história, antes jamais conseguira.

Patadón, loco! Se terminó

Contra o Cruzeiro no ano passado, obteve a maior vitória de um clube argentino no Brasil na história da Copa: 3×0 e baile. De 15 mata-matas, perdeu só dois: a final do Mundial para o Barcelona e a semifinal da Sul-Americana 2015 para o Huracán.

IMPROVISO
Fazer um gol no Boca escalando um zagueiro para jogar de centroavante. Foi o que conseguiu Gallardo ao pôr Pezzella e insistir no jogo aéreo em campo encharcado.

As invenções são constantes e nem sempre funcionam. Mas a criatividade está no DNA do River que tanto perde gente importante, tanto se reformula e… tanto ganha.

Com a bola – laranja! – e treinando com o time

SILÊNCIO
Ao voltar do México, os jogadores estão entediados. Não sabem que fazer. Então atiram almofadas uns nos outros. Gallardo olha para o fundo. Seu rosto não está alegre. A guerra de almofadas acaba de terminar. O líder conduz. Às vezes, até sem precisar falar, é outro trecho de sua biografia.

Suas atitudes tanto transcendem o diálogo que o capitão, o goleiro Barovero, é reconhecido também por falar pouco – e baixo – e agir muito – e bem.

O sucesso de Gallardo na Argentina é tão grande que três livros seus já foram escritos. Juntos, somam quase mil páginas.

'Gallardo Monumental' é a biografia autorizada, escrita por Diego Borinsky, da revista El Gráfico. Excelente do início ao fim das 488 páginas.

'A Lousa de Gallardo' é de Christian Leblebidjan, do jornal ''La Nación'', analisando profundamente suas táticas.


E 'Heróis', de Leo Farinella, do diário ''Olé!'', sobre a revolução Gallardo em seus meses de River.

Tema de livros, é chamado também de Napoleão, baixinho bravo e estrategista.


O apelido foi dado pelo locutor Atilio Costa Febre neste ponto aqui, na comemoração da vitória sobre o Boca na Sul-Americana de 2014.

O confronto gerou um clipe espetacular, digno do país que produz hoje o melhor cinema do mundo.

Gallardo havia perdido a mãe na véspera. E vibrou de maneira que…é melhor ver.

Eduardo Sacheri, roteirista do ganhador de Oscar O Segredo dos Seus Olhos, termina assim 'Gallardo Monumental':

O River de Gallardo não apenas conquistou títulos. Conseguiu grandes títulos. Títulos que o River desejava fazia muito e que eram, talvez, o único modo de cicatrizar de verdade suas feridas mais dolorosas. E contra o rival de toda sua vida, claro. Porque nos grandes filmes nossas façanhas se medem sobretudo pelo tamanho dos nossos obstáculos.