Patadas y Gambetas

Rádio, galinha, laranja; 7 histórias que fazem, de River-Boca, um superjogo

Tales Torraga

Chegou o dia da expressão máxima da cultura argentina. River Plate e Boca Juniors jogam às 17h no Monumental pela sexta fecha do Nacional, mas o que está em disputa não é um mero placar. É uma tradição secular que paralisa todo um país.

Não é frase feita. Enorme parte dos 40 milhões de argentinos – mesmo torcedores de outros times – vai se juntar às TVs e rádios (sim, rádios!) para viver nova jornada de paixão e intensidade difíceis de compreender longe das fronteiras argentinas.

A comparação é abstrata – toda comparação é -, mas seria como Flamengo e Corinthians, clubes brasileiros mais populares, serem da mesma cidade e terem estádios a 16 quilômetros de distância. E do Amapá ao Rio Grande do Sul vendo.

Na Argentina, é mais que um jogo. Um superjogo. De superclássicos.

Sete histórias mostram:

O rádio de Comizzo
Boca e River jogavam na Bombonera em 1992 e um torcedor também resolveu jogar – um rádio na cabeça do goleiro Comizzo, do River.

Ele pôs os fones e, garante, escutou a narração do pênalti desperdiçado por Hernan Díaz na outra trave. Impossível 'embedar' – daqui sigam ao YouTube, por favor.

A galinha de Tevez
Semifinal da Libertadores 2004. River 1×0, golaço de Lucho Gonzalez. Tevez, aos 43min do segundo tempo, empatou e passaria o Boca à final.

Enlouqueceu, tirou a camisa, imitou uma galinha, apelido maldoso do River, e foi expulso. O 2×1 River saiu aos 50 (!) do segundo tempo. Mas nos pênaltis, e só na última cobrança, deu Boca – o infalível Deportivo Penales de então.

A laranja de Alonso
Laranja. Foi esta a cor escolhida por Loco Gatti, goleiro do Boca, para a bola usada no jogo de abril de 1986 que poderia dar o título nacional ao River.

Poderia e deu. Beto Alonso fez dois gols – um com a laranja, outra com a branca – e o River cumpriu volta olímpica em plena Bombonera embaixo de piedrazos. Insano.

A água na Boca
Boca 2×2 River no Monumental e Boca campeão argentino em 1969. A festa no estádio rival, surpresa, não encontrou hostilidade da torcida, mas sim do clube.

O River abriu as torneiras que regavam o campo para impedir a volta olímpica do Boca. Que, claro, deu a volta igual. Empapados de água. E de alegria.

A bomba de Passarella
Poucos na Argentina chutaram tão forte e tão bem quanto Daniel Passarella. Em 1989, o histórico zagueiro do River mandou no ângulo. De falta e de muito longe. Era o centésimo gol da carreira – na Bombonera, ainda por cima.

Mas Juan Bava, juiz e torcedor do Boca, anulou. Sem motivo – só o do coração. Cinco meses depois, Bava ainda expulsou Daniel de sua despedida, por reclamar.

O asilo de Palermo
Quartas-de-final da Libertadores 2000. River 2×1 Boca na ida, no Monumental. A dúvida do Boca para a volta era a participação de Palermo após longa lesão.

Técnico do River, Tolo (tolo mesmo) Gallego gozou: ''Palermo? Então vou pôr o Enzo!'', disse, do ídolo aposentado. Na Bombonera, Boca 3×0. Com gol de Palermo.

A pintura de Maradona
Para os argentinos, Diego já era o melhor do mundo em 1981, aos 20 anos.

Golaços como este, deixando no chão Fillol e Tarantini, campeões do Mundial 1978, aumentavam sua fama. Também da do fotógrafo que, correndo atrás de Diego, caiu e eternizou a glória do pibe Maradona no lusco-fusco da Bombonera.

O superclássico é disputado desde 1913. Os números:

OFICIAIS
Jogos – 240
Vitórias do Boca – 86 (315 gols)
Vitórias do River – 78 (290 gols)
Empates – 76

COM AMISTOSOS
Jogos – 359
Vitórias do Boca – 130 (473 gols)
Vitórias do River – 117 (430 gols)
Empates – 112

NO MONUMENTAL (OFICIAIS)
Jogos – 104
Vitórias do River – 42
Vitórias do Boca – 28
Empates – 34

As formações de hoje:

Club Atlético River Plate (4-4-2): Marcelo Barovero; Gabriel Mercado, Jonatan Maidana, Emanuel Mammanna, Leonel Vangioni; Camilo Mayada, Leonardo Ponzio, Ignacio Fernández, Sebastián Driussi; Rodrigo Mora e Lucas Alario. Técnico: Marcelo Gallardo

Club Atlético Boca Juniors (4-3-3): Agustín Orion; Leandro Jara, Daniel Díaz, Juan Insaurralde y Jonathan Silva; Pablo Pérez, Fernando Gago y Rodrigo Bentancur; Nicolás Lodeiro, Carlos Tevez e Sebastián Palacios. Técnico: Guillermo Barros Schelotto

Árbitro: Patricio Loustau

Capa de hoje do diário ''Olé!''


Boca x River, claro, são temas de documentários. Este, mundial.

Este outro, feito para a Inglaterra: