Patadas y Gambetas

Sem gol, sem torcida, sem emoção; fotos e bastidores da Bombonera vazia

Tales Torraga

Templo da paixão argentina pelo futebol, a Bombonera viveu nesta quinta (3) a noite mais melancólica de seus 75 anos.

Sem público, Boca Juniors e Racing ficaram no 0x0 na partida que quitou a pena do Boca por um torcedor agredir os jogadores do River Plate no ano passado.

Jamais uma partida de tal dimensão – clássico argentino, ainda mais na Libertadores – foi disputada na Bombonera com portões fechados.

Enquanto a torcida do Rosario Central brigava por ingressos em São Paulo, o cenário para o jogo da Bombonera era esse, segundo o diário ''Olé!'':

A imagem angustia, dói. Ver a Bombonera vazia gera impotência. Está o estádio, estão as equipes, mas a gente ficou de fora, vetada pela Conmebol do espetáculo esportivo por consequência do episódio do gás pimenta contra o River. Por isso Boca-Racing se joga com portões fechados. E os torcedores precisam se conformar em vê-lo pela TV.

Bombonera instantes antes do clássico. Crédito: Olé!

Os termômetros marcavam 26 graus em nova noite muito agradável de março em Buenos Aires. Por sorte não estava mais frio. A Bombonera fica em região tradicionalmente gelada, colada ao Rio Riachuelo.

Na calle Brandsen, atrás do gol ocupado pela barra, quase uma centena de torcedores carregaram bandeiras e cantaram antes do jogo.

Torcida na calle Brandsen. Crédito: @tato_aguilera

Elenco mais caro e estrelado desta Libertadores, o Boca foi recebido assim. Sem calor humano. Só o silêncio do cimento. Jogos como o desta noite costumam ter renda de 12 milhões de pesos (cerca de R$ 3 milhões).

Racing e Boca perfilados para o início. Crédito: @la12tuitera

A melancolia contaminou os jogadores. Uma das grandes dificuldades do estreante técnico Guillermo Barros Schelotto era enchufar, ligar a equipe.

Assim Schelotto entrou em campo. Crédito: Boca Juniors

Sem bumbo e nem bandeira na Bombonera.

O som ambiente vinha dos papos dos capitães Tevez e Saja com o árbitro brasileiro Sandro Ricci e seus auxiliares Emerson Carvalho e Diego Correa.

Na TV argentina, muitas vezes narrador e comentarista ficavam em silêncio para o público ouvir as instruções de Schelotto e os insistentes pedidos de Saja para cartões a jogadores do Boca – foram quatro amarelos xeneizes só no primeiro tempo.  O que se ouvia no gramado era escutado também pelos telespectadores.

Os irmãos Schelotto impedindo leitura labial – mas pela TV se ouvia tudo. Crédito: @la12tuitera

Em falta dura do volante Pérez, ouviu-se claramente sua patada em Camacho.

Em tempos em que jogadores tapam a boca para impedir a leitura labial, um interessante contraponto sonoro.

Jonathan Silva, do Boca. Crédito: Boca Juniors

O segundo tempo seguiu o primeiro. Poucas ações ofensivas. Muita correria, muita gritaria dos jogadores e muitos bocejos.

O Boca voltará a contar com sua torcida na Libertadores em 7 de abril, contra o Bolivar. Pelo Argentino, o clube enfrentará o River neste domingo em um Monumental de ingressos esgotados pela torcida millonaria, única no estádio.

Tevez trocou os grandes palcos europeus pela Bombonera…vazia. Crédito: Boca Juniors

Aos 40 minutos, rojões disparados pela torcida na rua assustaram a transmissão. O mais emocionante da segunda metade.

O famoso slogan ''La Bombonera no tiembla, late'', ''A Bombonera não treme, pulsa'', nesta noite foi só pálida lembrança. Algo de outra vida, tamanho o contraste.